Vários membros do Syriza, liderados pelo ex-ministro da Energia Panayotos Lafazanis, reuniram-se em Atenas no dia 14 de julho, poucas horas depois do acordo assinado por Alexis Tsipras para o terceiro resgate. O Financial Times conta que, em conjunto, estes membros do Syriza desenharam um plano para tirar a Grécia da zona euro que passava por colocar o governador do banco central, Yannis Stournaras, atrás das grades e pedir ajuda a Moscovo.

Citando conversas com membros do Syriza que estiveram presentes nesse “momento, obviamente, de grande tensão“, o Financial Times descreve esta sexta-feira com detalhe quais eram os planos de Panayotos Lafazanis para liderar uma insurreição contra o acordo que o primeiro-ministro tinha assinado com os credores europeus às primeiras horas do dia 13 de julho.

“O nosso plano é ir para uma moeda nacional. É isso que devíamos ter feito há muito tempo, mas podemos fazê-lo agora“, disse Panayotos Lafazanis, na altura ministro da Energia e ainda hoje líder da Plataforma de Esquerda do Syriza, segundo disse ao ao FT uma das pessoas que estiveram presentes na reunião. Alexis Tsipras revia-se neste plano.

Falando perante os membros desta chamada Plataforma de Esquerda, que reúne várias sensibilidades como antigos membros do Partido Comunista e apoiantes do regime de Chávez na Venezuela, Panayotos Lafazanis explicou que o primeiro passo seria tomar levar o Estado a assumir o controlo do banco central.

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Se Yannis Stournaras, o governador, se opusesse a essa perda de independência do banco central, como provavelmente aconteceria, este seria colocado na prisão pela polícia grega, escreve o Financial Times.

Comida, combustível, pensões e salários pagos com reservas

O segundo passo no plano da Plataforma de Esquerda era assumir o controlo da casa da moeda grega, o Nomismatokopeion, onde estariam, segundo Lafazanis, reservas de mais de 22 mil milhões de euros. Esse dinheiro serviria para pagar pensões e salários, bem como importar comida e combustível, durante os meses que demoraria a relançar o dracma.

Segundo o Financial Times, que confrontou fonte europeia com este plano, o plano falharia por completo. Em primeiro porque não estão mais do que 10 mil milhões de euros na casa da moeda, o que daria para apenas algumas semanas.

Além disso, e pior, essas reservas deixariam de poder ser legalmente usadas para fazer transações financeiras nos mercados internacionais. Assim que perdessem a independência, a casa da moeda e o banco central nacional deixariam de poder cunhar moeda e imprimir notas de euro. Se isso acontecesse, seria como se estivessem a usar dinheiro contrafeito, explicou uma fonte do BCE ao FT.

“As consequências seriam desastrosas. A Grécia ficaria isolada do sistema financeiro internacional com os seus bancos incapazes de funcionar e os euros das suas reservas sem qualquer valor”, explicou esta fonte ao FT.

O terceiro elemento: Vladimir Putin

Para ajudar a transição para a nova moeda, o plano de Lafazanis passava, finalmente, por pedir assistência financeira a Moscovo e ao Presidente russo, Vladimir Putin. Esta informação já tem causado grande polémica na Grécia nos últimos dias, desde que jornais como o To Vima terem escrito que o governo grego tinha pedido 10 mil milhões de dólares ao Kremlin.

Dde acordo com o jornal Greek Reporter, que cita a publicação grega To Vima, a resposta de Moscovo terá sido a possibilidade de adiantar 5 mil milhões de dólares sobre a construção de um gasoduto que atravessaria a Grécia. Ainda segundo este órgão de comunicação social, Tsipras terá de seguida estendido o pedido de empréstimo a Pequim e a Teerão. Sem sucesso.

O próprio Alexis Tsipras disse, numa entrevista à estação pública após o acordo com a Europa, que a única forma de um país sair da zona euro é partir para esse processo com “reservas de moeda robustas”. Segundo a imprensa grega, houve uma equipa de técnicos no Ministério das Finanças a estudar a reintrodução da moeda na Eslováquia depois da separação da Checoslováquia, em 1993.

O ex-ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, que se demitira alguns dias antes (no dia seguinte ao referendo de 5 de julho) defendeu publicamente que a Grécia emitisse notas de crédito para financiar despesas internas como pensões e salários da Função Pública. Panayotos Lafazanis, que viria no final da semana passada a ser substituído, visitou Moscovo três vezes desde que o Syriza venceu as eleições. O ministro da Energia queria que a Rússia adiantasse pelo menos cinco mil milhões de euros em taxas de passagem de gás natural através dos gasodutos russos na Grécia.