Não é, definitivamente, uma espécie em vias de extinção. Os deputados paraquedistas – sem nenhuma ou pouca ligação ao distrito pelo qual concorrem – são um clássico nas listas de candidatos a deputados. Em 2002, houve uma candidata a deputada do PSD que chegou a viver num hotel em Castelo Branco para fazer campanha por um distrito que pouco conhecia.
Desta vez, volta a haver alguns casos embora em menor número do que em eleições anteriores. O mais surpreendente é o de Teresa Leal Coelho, vereadora do PSD na Câmara de Lisboa, candidata a deputada há quatro anos pelo Porto e que agora é cabeça de lista em Santarém. “Como cidadã de Portugal, tenho ligações a todo o país em geral”, começa por desdramatizar a atual deputada.
“É bastante relevante as pessoas terem o domínio das preocupações, necessidades e carências de âmbito nacional com reflexos distritais”, defende, em declarações ao Observador. Leal Coelho diz que tenciona fazer uma campanha distrital e nacional ao mesmo tempo. “Tenho maior gosto e honra em ser candidata em Santarém como tive no Porto”, acrescenta.
Nilza de Sena, que já foi presidente de uma assembleia de freguesia em Lisboa, eleita deputada há quatro anos pelo círculo de Coimbra, aparece agora como cabeça de lista em Beja. O nome caiu mal na distrital que queria indicar o presidente da estrutura, Mário Simões. Nilza de Sena já foi vice-presidente do PSD, abandonou o cargo no último congresso e agora aparece como número 1 num distrito, onde dificilmente o partido consegue eleger um representante.
Ao Observador, a deputada reconheceu que o distrito alentejano “não é um distrito fácil” para o PSD e que “há muito trabalho a ser feito”. Ainda assim, a professora universitária diz-se “otimista” e garante estar “empenhada e motivada” para fazer o melhor por Beja. “Nas eleições autárquicas de 2013, enquanto vice-presidente do partido, acompanhei muito de perto a situação do Alentejo. Por isso, tenho conhecimento das estruturas do PSD locais e do território. Não é a primeira vez que vou ao Alentejo. Isso dá-me um certo aconchego, é evidente”.
“É claro que não tenho aquela dimensão de ter raízes a Beja – não nasci na terra. Mas gosto particularmente do distrito e quando as pessoas têm vontade e empenho, e estão verdadeiramente motivadas” esse problema não se coloca, sublinhou Nilza de Sena, antes de acrescentar que acredita que pode ser “uma mais-valia” para o distrito na “defesa das suas causas” e “das suas gentes”.
Teresa Morais, atual secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares, também concorre por um distrito onde tem poucas ligações: Leiria. Em 2002, foi candidata por Coimbra e nas duas últimas eleições concorreu por Leiria, iniciando uma candidatura-paraquedista que, pode-se dizer, agora já tem raízes.
Mais a norte do país, Luís Pedro Mota Soares, ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social, primeiro nome do CDS na lista, vai tentar a sorte pelo círculo eleitoral do Porto, apesar de não ter nenhuma ligação ao distrito e ter sido sempre deputado eleito pelo círculo de Lisboa. Não sendo no papel um cabeça de lista – esse lugar é ocupado por Aguiar-Branco (PSD) -, os centristas consideram Pedro Mota Soares, e os seus outros melhores posicionados, como cabeças de lista.
Nos cabeças de lista do PS, o caso mais flagrante é o de Maria Manuel Leitão Marques, que concorre por Viseu, embora a sua relação mais íntima seja com o distrito vizinho. Na apresentação dos candidatos, o PS assumiu que esta era a única candidatura de um outsider. Maria Manuel Leitão Marques foi secretária de Estado da Modernização Administrativa do Governo de José Sócrates e é professora catedrática da Faculdade de Economia de Coimbra.
Mas isso não preocupa a socialista. “Como sabe, foi um convite do secretário-geral do partido [António Costa], tendo em conta o trabalho que desenvolvi a nível nacional. Por isso, sinto-me confortável”. De Coimbra a Viseu são poucos quilómetros de distância e a Maria Manuel Leitão Marques garante que vai “olhar pelo distrito como todo distrito e dedicação” como sempre fez “em tudo” na vida.
José António Vieira da Silva, ex-ministro da Solidariedade Social de José Sócrates, é cabeça de lista em Santarém. Já foi candidato por Braga e Setúbal e desta vez estreia-se num terceiro círculo eleitoral, onde, mesmo assim, tem algum tipo de relação. Natural de Marinha Grande (Leiria), em pequeno chegou a estudar em Alcanena e Torres Novas (Santarém) e chegou a ser deputado municipal em Alcanena.
Mesmo assim, hoje em dia há menos deputados paraquedistas que no passado, onde já houve de tudo: até um ex-líder do PSD-Açores como cabeça de lista em Castelo Branco.