Manuela Ferreira Leite entrou na campanha eleitoral mesmo sem dizer nada, pelo menos sobre este assunto. António Costa disse em entrevista ao Sol que há uma “identidade muito significativa” entre ele e a ex-líder do PSD e há quem veja no silêncio da social-democrata depois destas declarações, “um embaraço para o  PSD” por não descolar. Ao Observador, António Capucho diz que é normal a proximidade entre “social-democratas de gema” e esta direção do PS, mas não acredita que Ferreira Leite faça parte de um governo socialista.

“É evidente que António Costa tem todo o interesse em apelar ao voto útil – chamar à direita e à esquerda, e chegar sobretudo àqueles milhares de social-democratas de gema que não se identificam com o atual governo”, diz ao Observador. Contudo, para Capucho, que se desvinculou do PSD com a atual direção, a afirmação de Costa, em entrevista ao jornal Sol, não significa que o socialista leve Manuela Ferreira Leite para o Governo. “Dá um ar de abertura, mas não é previsível”, que Ferreira Leite vá para um governo socialista, acrescenta.

Certo é que estas declarações de António Costa foram ouvidas na São Caetano à Lapa e foram de pronto criticadas por Luís Montenegro, que aproveitou a ocasião para ironizar: “O que eu estranho é que António Costa não tenha aproveitado para expressar proximidade programática com Maria de Belém Roseira para se apresentar muito próximo de uma ex-presidente do PSD”, disse à Agência Lusa. Acrescentando que o PS “não diz coisa com coisa”.

Contudo, há quem no PSD acredite que esta foi uma “provocação ao PSD” que só deixará de ser sentida se Manuela Ferreira Leite falar: “Agora, ou ela fala e descola ou não fala e é um embaraço”, disse fonte social-democrata ao Observador.

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Quem também considera que este foi mais um incómodo provocado pela ex-presidente social-democrata é António Capucho que lembra ainda que basta “ler e ouvir” o que tem dito para se perceber que é “bastante cáustica para a atual política da maioria”.

Este é já o segundo “embaraço” protagonizado pela ex-líder do PSD. Este mês, também numa entrevista ao Sol, Manuela Ferreira Leite não respondeu se iria votar na coligação.  Esse afastamento da atual direção – de lembrar que a direção de Manuela Ferreira Leite foi derrotada por Passos Coelho em 2010 – é notado por Capucho por duas ordens de razão: uma ideológica e outra pessoal.

No campo pessoal, é conhecida a boa relação que António Costa tem com Rui Rio, que fez parte da direção de Ferreira Leite, e com o próprio António Capucho, que esteve presente e discursou na Convenção do PS, para aprovação do programa eleitoral.

O segundo campo é ideológico: “Acho normal que os sociais-democratas de gema, como Manuela Ferreira Leite e eu próprio, estejam mais próximos do programa do PS do programa ultra-liberal do PSD”, sintetiza.

O Observador tentou uma reação de Manuela Ferreira Leite, mas não foi possível até ao fecho deste artigo.