Quando alguém puxou pela cabeça para inventar as regras do futebol não olhou para os cartões como uma coisa boa. E não são. Há um amarelo e outro vermelho, servem para castigar e, quanto muito, podem ser como um mal menor — quando um jogador faz asneira, perde a bola onde não deve, vai atrás do erro e faz uma falta para matar um contra-ataque. Sabe que é preferível levar com um cartão amarelo do que a equipa a levar com um golo. Os pedaços de cartolina que saem do bolso dos árbitros sempre foram um sinal de raspanete, mas em Itália vão deixar de o ser. Pelo menos simbolicamente.

A Lega Nazionale Professionisti B, ou Série B, em versão abreviada, gosta das raras ocasiões em que, por exemplo, um jogador cai na grande área, o árbitro apita, diz que é penálti, e o tal jogador se apressa a dizer-lhe que não é, que se enganou. Chama-se fair play, é bonito, toda a gente gosta — menos Jorge Jesus, que o acha “uma treta” — e a segunda divisão italiana vai passar a premiar os futebolistas que o adotem. Como? Através de um cartão verde.

A ideia foi revelada esta segunda-feira e, na verdade, até nem pressupõe que os árbitros passem a ter mais um cartão no bolso da camisola. O objetivo é que, no final de cada jogo, o homem do apito indique o jogador a quem deva ser atribuído o tal cartão, como prémio por ter cometido ato de fair-play. E isto vai desde o rematar a bola para fora de campo para que um adversário seja assistido pela equipa médica ou admitir que simulou uma queda na grande área para sacar um penálti. A federação italiana de futebol quer ver honestidade no calcio e verá se esta medida resulta. “Achamos que o futebol precisa de mensagens positivas. Este desporto está muitas vezes envolvido em controvérsias que afastam as pessoas dos estádios”, admitiu Andrea Aboli, presidente da Série B, à BBC Sport.

Durante a partida o cartão verde nunca aparecerá, pelo menos por agora. O dirigente indicou que a novidade começará a ser utilizada à “terceira ou quarta jornada” do campeonato (que arranca este fim de semana) e que, no final da época, o jogador que mais cartões tiver colecionado receberá um prémio. Ainda não se sabe qual será. “O cartão só tem um valor simbólico. Se assim não fosse, teríamos de alterar as regras do futebol. Esta é uma iniciativa que presente ser um estímulo para que cresça o respeito mútuo e o jogo limpo”, explicou Andrea Aboli. A medida não é inédita, embora arregale o olho por ser implementada num escalão do futebol sénior.

Em Portugal, aliás, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) apresentaram, em março, o cartão branco — que também serve para premiar comportamentos de fair-play dentro de campo. Mas há diferenças: a ideia, por cá, é que os homens do apito saquem do cartão as vezes que quiserem e, pelo menos inicialmente, apenas os árbitros da Associação de Futebol de Setúbal o utilizaram em jogos de escalões entre os 10 e os 15 anos.

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