Paulo Portas é o líder partidário em funções há mais tempo. É, mas vai deixar de ser: Portas anunciou hoje ao partido, na reunião da Comissão Política desta segunda-feira à noite, que não se vai recandidatar à liderança. O que significa que vai deixar de ser o presidente do partido a partir do próximo congresso.

Aos dirigentes do CDS, Paulo Portas disse que sairia da presidência do partido por não ser candidato ao cargo no próximo congresso. Durante o discurso, Portas agradeceu o empenho dos centristas durante a sua liderança e o trabalho desempenhado ao longo dos últimos anos, contaram ao Observador várias fontes presentes na reunião.

Esta reunião de hoje antecede o Conselho Nacional do partido de 7 de janeiro, onde será marcada a data do congresso que deverá decorrer durante os primeiros meses de 2016, entre março ou abril.

A saída de Paulo Portas da liderança do CDS era esperada em caso de derrota da coligação Portugal à Frente em outubro. Já havia até movimentações, mas com a coligação à frente do PS e a formar Governo (que contudo durou menos de um mês) o partido sossegou. Foi, afinal, por pouco tempo.

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“A liderança é tão forte que essa não é questão que se ponha, o partido está completamente ao lado do seu líder”, dizia antes dessas eleições ao Observador o dirigente centrista Diogo Feio. “O CDS está muito contente com o seu líder e quer que ele continue”, reforçava Cecília Meireles. “A sua liderança ainda vai a meio, a outra metade é para governar com ventos mais favoráveis”, concluia o deputado Telmo Correia.

Em maio, contudo, Assunção Cristas assumia, em entrevista ao Observador, que estava “ao serviço do partido para o que for necessário”, inclusive para a liderança. Antes, o ministro da Economia, Pires de Lima, já tinha dito ao Expresso que “só nos regimes menos democráticos é que os líderes se perpetuam independentemente dos resultados”, fazendo depender uma eventual saída de Portas dos resultados eleitorais. Ainda que nenhum queira falar na hipótese de uma sucessão no curto prazo, a verdade é que, mais uma vez, o elefante entrou e ficou à espera na sala.

Eleito líder do CDS em 1998, Portas abandonou a liderança pela primeira vez em 2005, com o reconhecimento de que tinha falhado a meta dos 10% dos votos que tinha traçado. “Acho que terminou o ciclo político em que presidi ao CDS/PP”, disse na altura, afirmando que “o povo português detesta a conversa das vitórias morais”. Hoje, muitos dizem que “foi um erro”. Porque abriu fissuras fortes no partido e “foi muito difícil recuperar a coesão”, diz o deputado João Rebelo. A diferença, acrescenta, é que na altura Portas “teve medo” de sair “porque não havia ninguém muito preparado” para o substituir.

Nessa altura foi Ribeiro e Castro que presidiu ao partido no interregno de Paulo Portas (até 2007), mas agora é seguramente uma carta fora do baralho. Ao Observador, o atual deputado muito crítico da falta de debate interno e da “ausência de uma rotina de discussão de políticas” dentro do partido, afirmava em setembro que não pensa recandidatar-se no caso de uma saída de Portas. Da ala crítica de Portas, atualmente é Filipe Anacoreta Correia o rosto mais ativo, podendo ser ele o candidato desafiador do portismo no momento da sucessão.

Depois de dois anos fora, Paulo Portas não aguentou o afastamento e regressou para reconquistar a liderança do partido. Nessa altura, voltou determinado a fazer mudanças e fez da captação de novos quadros e da renovação pelo mérito as suas palavras de ordem. Pela mão levou por exemplo a ex-ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e de 2007 para cá tem-se dedicado a dar protagonismo a todos os discípulos em quem vê mérito. É o caso de Mota Soares, que além do cargo no Governo, é o homem do CDS na mediação da coligação, da deputada Cecília Meireles, a quem lhe deu a pasta da coordenação da campanha eleitoral, de João Almeida, secretário de Estado que faz a gestão da comunicação do partido, ou da própria Cristas que ficou com a responsabilidade de elaborar o programa eleitoral. Ou de Nuno Melo, o primeiro vice-presidente do partido e o mais popular entre os militantes – a seguir ao líder. Tudo nomes que agora surgem apontados como sucessores, antevendo-se uma guerra de tronos num partido que muitas vezes foi visto como sendo “de um homem só”.