Francisco Assis termina 2015 de acordo com a mesma postura que lhe foi conhecida durante a maior parte do ano. Num artigo de opinião no jornal Público, intitulado “Um ano, seis personagens”, o eurodeputado socialista deixa algumas críticas a António Costa, adivinhando um fim próximo para o governo socialista; e elogios à direita, com destaque para Pedro Passos Coelho.

Sobre o líder socialista, refere que se formou em torno deste uma “exagerada expectativa de caráter sebastiânico-populista projetada”, o que acabou por ser um “problema” para António Costa, a par da “aparente melhoria das condições económico-financeiras do país” e da “inesperada prisão do antigo primeiro-ministro José Sócrates”.

Assis diz ainda que Costa foi “errático” na oposição, “senão mesmo contraditório”, apontando-lhe “sinais de esquerdização” no congresso do partido; mais tarde, aquando da apresentação do programa económico para as eleições, fez uma “inflexão para o centro abrindo as portas a propostas inovadoras em áreas tão sensíveis como a regulação do mercado laboral, o financiamento do Estado Providência”. Tudo isto na campanha eleitoral, onde Assis diz que “as coisas (…) não correram muito bem” a Costa. “E o resultado obtido a 4 de outubro não constituiu surpresa para ninguém”, escreve.

Apesar disso, lembra Assis, numa noite que “poderia ter sido a da sua própria morte política, António Costa renasceu”, numa altura em que, segundo o eurodeputado, Costa “iniciou uma caminhada rumo ao poder” proporcionada por “uma inédita abertura por parte dos partidos da extrema-esquerda parlamentar”.

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Francisco Assis, que tem sido uma das vozes mais críticas dentro do PS à liderança de António Costa, sobretudo já depois das eleições de 4 de outubro, refere que o atual primeiro-ministro, “como homem profundamente pragmático que é”, está ciente das “dificuldades que se lhe depararão no futuro próximo”, onde terá de fazer o equilíbrio entre a “inimizade visceral da direita e a desconfiança natural da extrema-esquerda”. Por isso, Assis escreve que “esta legislatura não vai durar quatro anos dada a estrutural instabilidade da presente composição parlamentar”.

Assis sobre Passos: “Tem todas as condições para liderar a direita”

Se a Costa deixou críticas, Assis avaliou o ano de Passos Coelho de forma positiva q.b., apesar das diferenças de “perspetiva doutrinária” que mantêm. Para o eurodeputado socialista, o ex-primeiro-ministro chegou ao “mais imprevisível dos cenários”, no qual “conseguiu chegar vivo à liderança da oposição”. Escreve ainda que Passos Coelho “tem todas as condições para liderar a direita portuguesa” e que “independentemente da apreciação que cada uma faça acerca dos méritos e dos deméritos da sua governação revelou força de caráter e até uma certa obstinação que é própria dos líderes políticos”.

Assis fala ainda de Paulo Portas, de quem diz que “fez bem em abandonar a liderança do CDS”, sobrando a agora a dúvida sobre “se o partido tem condições para sobreviver sem ele”; de Catarina Martins, que diz ser “talvez a grande surpresa política do ano”; de Jerónimo de Sousa, dizendo que “o seu tempo como líder do PCP parece estar a chegar ao fim” numa altura em que participa “num acordo em que notoriamente deposita escassas esperanças; e de Cavaco Silva. É apenas sobre o Presidente da República que guarda a sua opinião para outra altura: “É ainda demasiado cedo para fazer uma avaliação verdadeiramente objetiva de um homem que marcou de forma determinante os últimos 30 anos da vida política nacional”.