O ex-vereador da Mobilidade do executivo de António Costa na Câmara Municipal de Lisboa renunciou ao mandato de deputado na Assembleia Municipal de Lisboa. Fernando Nunes da Silva, que em 2013 tinha trocado a vereação pela bancada parlamentar dos Cidadãos Por Lisboa, diz que sai por não concordar com as políticas de Urbanismo da autarquia, algumas das quais “contrariam o programa eleitoral e o próprio PDM”.

O ex-vereador, especialista em Planeamento Urbano, é particularmente crítico das obras que a câmara pretende fazer na Segunda Circular e no chamado Eixo Central, entre o Marquês de Pombal e Entrecampos. “Estamos a pôr o carro à frente dos bois”, diz Nunes da Silva ao Observador, considerando que a intenção do município para a Segunda Circular é “uma operação fundamentalmente cosmética” que vai criar “um pandemónio” na cidade.

O deputado municipal, que enquanto vereador falou diversas vezes sobre a necessidade de uma requalificação da Segunda Circular, pensa que a fórmula escolhida pela equipa de Fernando Medina não faz sentido. Antes de se mexer naquela estrada, uma das prioridades, explicou ao Observador, deveria ser a melhoria dos eixos transversais da cidade, entre Sete Rios e a Av. Gago Coutinho, a Av. de Berna e as Olaias e entre a Av. Infante Santo, o Rato e a Av. Almirante Reis. Sem isso, “uma intervenção destas [na Segunda Circular] vai transportar o caos para dentro da cidade”.

Isto é uma boa ideia se for feita de forma coerente e faseada. [Assim] é fazer à martelada com base numa maioria absoluta e sem preocupação pelos efeitos na vida das pessoas”.

O projeto da câmara para a Segunda Circular prevê a redução da velocidade máxima de 80 para 60 quilómetros por hora e a valorização da CRIL e do Eixo Norte-Sul como vias alternativas para o atravessamento da cidade. Ora, Nunes da Silva lembra que o tráfego de atravessamento na Segunda Circular é de apenas 10% e que o restante é de acesso à cidade, pelo que não acredita que os lisboetas optem por outras estradas.

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Por outro lado, o ex-vereador critica a opção pelo “politicamente correto” de se querer arborizar tanto aquela via. “Não faz sentido nenhum ter colocado uma plantação de árvores daquela intensidade no separador central”, diz Nunes da Silva, lembrando o “efeito de túnel” que acontece na Av. da Liberdade e que, em vez de reduzir a concentração de gases tóxicos, aumenta-a.

Fernando Nunes da Silva foi eleito deputado pelo movimento independente Cidadãos Por Lisboa em 2013, depois de ter sido vereador também por esse grupo. A decisão de renunciar ao mandato foi comunicada aos colegas de bancada e a Helena Roseta (presidente da assembleia e também eleita pelo Cidadãos Por Lisboa) depois da votação do orçamento municipal, no fim de novembro. Ao Observador, o deputado sublinha o “orgulho” que tem nos vereadores independentes do executivo (com as pastas da Habitação, Direitos Sociais e Finanças), mas “isso não pode apagar a parte fundamental” que são “as grandes opções urbanísticas” da equipa do vereador Manuel Salgado e de Fernando Medina.

A par do projeto para a Segunda Circular, Nunes da Silva é também bastante crítico das anunciadas obras para o eixo entre o Marquês e Entrecampos, onde a câmara quer acabar com centenas de lugares de estacionamento, introduzir ciclovias, fazer passeios mais largos e aumentar os espaços verdes. Para ele, o projeto tem “imensos erros técnicos”, o que é “uma coisa inexplicável que põe em causa a seriedade do trabalho”. Com esta proposta, as avenidas da República e Fontes Pereira de Melo vão ficar “completamente engarrafadas”, o que vai originar filas de trânsito por mais de seis horas, diz.

O projeto para a Segunda Circular está em consulta pública até 15 de janeiro.