A negociação das ações da Mota-Engil foi suspensa esta segunda-feira na bolsa de Lisboa, a pedido da CMVM, depois de os títulos terem estado a derrapar mais de 20% nos primeiros minutos da sessão. A CMVM informou, entretanto, que foi levantada a suspensão das ações, depois de um comunicado da empresa a dizer que desconhece quaisquer motivos para a queda dos títulos.
“O Conselho Directivo da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deliberou, nos termos do artigo 208º e da alínea b) do n.º 1 do artigo 206º do Código dos Valores Mobiliários, a suspensão imediata da negociação das ações da Mota-Engil, SGPS, SA nos mercados regulamentados da Euronext Lisbon”, informou a CMVM em comunicado.
“A suspensão manter-se-á até que se proceda à divulgação de informação relevante sobre o emitente”, adiantou o regulador do mercado ao início da manhã. A suspensão foi levantada à hora de almoço, após um comunicado da empresa dizer que não conhece quaisquer motivos para a forte queda.
As ações da Mota-Engil têm tido um início de ano difícil, como se pode ver pelo gráfico da Bloomberg. Os títulos foram suspensos a um valor que corresponde a metade da cotação de novembro.
Petróleo em queda. Angola sob pressão.
“Os preços do petróleo estão na origem da pressão vendedora da Mota-Engil”, afirma Pedro Ricardo Santos, gestor da corretora XTB Portugal. “O levantamento das sanções internacionais impostas ao Irão arrastam a cotação da matéria-prima antevendo-se um acentuar do desequilíbrio entre a oferta e a procura mundial. Isso mesmo levou a matéria-prima a cotar em níveis de 2003, vincando a asfixia aos países produtores”.
O especialista da XTB acrescenta que “Angola, um dos países mais prejudicados com o movimento do preço, começa a evidenciar problemas sérios em manter o modelo de crescimento baseado sobretudo na produção e exportação do ativo”. E, no PSI20, uma das empresas mais correlacionadas com o país africano é a Mota-Engil. “O adiamento de projetos de investimento que se traduzam em negócios para a construtora comprometem as contas do grupo”, remata Pedro Ricardo Santos.
“Não há razão” para a queda das ações, diz António Mota
Em declarações ao Diário Económico, o chairman da Mota-Engil disse esta manhã que “não há razão” para a queda dos títulos. “Tenho pena de não ter liquidez para comprar as ações todas”, acrescentou o responsável.
Em comunicado, a Mota-Engil afirmou que desconhece os motivos que poderão justificar o comportamento da cotação das suas ações na sessão de hoje e reitera a sua estratégia de alienação de ativos na atividade da engenharia e construção.
Num esclarecimento enviado ao mercado, o grupo refere que “desconhece qualquer facto que possa minimamente justificar o comportamento da cotação da sua ação” e reitera que na atividade da engenharia e construção a estratégia passa pela “alienação de ativos com nível elevado de maturidade (nomeadamente nos segmentos das concessões de transporte e logística) e que tem sido efetuada com reconhecido sucesso.
As ações da Mota-Engil caem 41,3% desde o início do ano, perdendo, assim, quase metade do valor que tinham à entrada em 2016.
As outras construtoras cotadas na bolsa de Lisboa também estão a sentir o impacto das dúvidas em torno da economia angolana. A Soares da Costa está a cair 6,25% para os níveis mais baixos de sempre e a Teixeira Duarte, que caiu em cinco das últimas seis sessões, está a negociar em mínimos de finais de 2012.