O presidente da Associação Nacional de Sargentos (ANS), José Gonçalves, considerou este sábado que as declarações do subdiretor do Colégio Militar sobre homossexualidade foram a “gota de água” para a demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército.

“As afirmações do subdiretor do Colégio Militar não terão sido a razão de fundo para a demissão, mas a gota de água que fez transbordar o copo. É um acumular de situações para um homem que, aquando da sua tomada de posse, apostou em executar o mandato tendo em conta o bem-estar dos homens e da missão operacional”, adiantou à agência Lusa o responsável.

Na opinião do sargento-mor José Gonçalves, “não era uma polémica desta natureza que o iria levar à demissão”.

“Nesse quadro, e não querendo ver o que é evidente, a prova é que ‘o rei vai nu’, porque os problemas que se passam são transversais a todos os ramos das Forças Armadas. Apesar de que as razões para a sua demissão, que vieram a público, serem de ordem pessoal”, argumentou.

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No entender do presidente da Associação Nacional de Sargentos, o Chefe do Estado-Maior do Exército (CEMA) viu goradas as expectativas que tinha projetado para o mandato.

“No nosso entender, não terá conseguido atingir as expectativas que projetou para o mandato”, disse.

No que diz respeito às declarações do subdiretor do Colégio Militar, José Gonçalves, a associação “não tem nada a dizer porque se inserem num quadro dos valores constitucionais e na esfera das liberdades individuais”.

O pedido de demissão do CEME ocorreu dois dias depois de o ministro da Defesa Nacional lhe ter pedido um esclarecimento a propósito de afirmações feitas pelo subdiretor do Colégio Militar sobre discriminação dos alunos homossexuais.

Numa reportagem publicada na sexta-feira pelo jornal ‘online’ Observador, o subdiretor do Colégio Militar, tenente-coronel António Grilo, afirmou: “Nas situações de afetos [homossexuais], obviamente não podemos fazer transferência de escola. Falamos com o encarregado de educação para que perceba que o filho acabou de perder espaço de convivência interna e a partir daí vai ter grandes dificuldades de relacionamento com os pares. Porque é o que se verifica. São excluídos”.

Ouvido pelo DN, na sequência destas afirmações, o Ministério da Defesa fez saber que pediu explicações ao CEME e assumiu que “considera absolutamente inaceitável qualquer situação de discriminação, seja por questões de orientação sexual ou quaisquer outras, conforme determinam a Constituição e a Lei”.

O ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, anunciou este sábado que já iniciou os procedimentos adequados visando a substituição do general Carlos Jerónimo, que pediu a exoneração do cargo de Chefe do Estado-Maior do Exército.