O diretor da unidade de estudos do Idealista, o maior portal imobiliário de Espanha, diz que não há sintomas de bolha imobiliária em Portugal, realçando que Lisboa está a juntar-se a Londres como “cidade-refúgio” para investidores no setor.
Sócio e cofundador do Idealista, que há dois anos se expandiu para Portugal, Fernando Encinar, começou a alertar em 2004 para as ‘bolhas imobiliárias’ no portal que lançou juntamente com o seu irmão, Jesús Encinar, um problema que viria a afundar a economia espanhola a partir de 2008.
“Em 2004 publicámos um livro que se chamava ‘A Bolha Imobiliária’. E a partir do nosso pequeno portal, começámos a avisar que havia uma ‘bolha’ enorme que poderia ser muito prejudicial para a economia. Em 2005, 2006 e 2007, de cada vez que se falava no tema, alertava que a ‘bolha’ era cada vez maior e perdi toda a minha credibilidade. Nesses anos diziam-me que estava sempre a falar do mesmo”, contou Fernando Encinar, em entrevista à agência Lusa.
O Idealista é uma plataforma imobiliária — online e em aplicação para telemóvel – cujo negócio gira em torno do anúncio de casas, de particulares e de imobiliárias, e não da sua venda. No entanto, a empresa – que investiu cerca de dois milhões de euros a lançar a sucursal portuguesa – produz em Espanha, Itália e também em Portugal análise regular ao funcionamento do preço, bem como à evolução dos preços imobiliários.
Essa visão do mercado, diz, permitiu-lhe antever a crise imobiliária espanhola – fomentada por um boom de construção e concessão de créditos sem uma avaliação correta de risco.
“Lamentavelmente o tempo deu-me razão. Mas gostaria de não a ter tido, pelo impacto que teve não só na economia, mas também na sociedade espanhola, em milhões de famílias. Na altura, o Governo espanhol e toda a gente estava em negação, porque parar a ‘bolha’ significaria desacelerar a economia. Não havia outra maneira”, recordou.
Em Portugal, a dívida privada (empresas e famílias) chega aos 190% do Produto Interno Bruto (quase o dobro do que a economia produz num ano) e os bancos têm muito crédito imobiliário malparado, mas Fernando Encinar não deteta sinais de risco.
“Não vejo sintomas no mercado português de bolha imobiliária como em Espanha, onde os ativos cresceram 30% a cada ano. O que se passa é que Portugal é um mercado imobiliário muito atrativo, e não apenas para portugueses”, o que faz subir os preços, afirmou.
Para o especialista, um indicador de saúde do mercado é “não existir extremos” nas vendas de casas.
“Os extremos são maus: é mau que nada se venda, é mau que se venda tudo e que os preços comecem a ficar disparatados. O mais razoável é um mercado em que estrangeiros e portugueses possam comprar casa, dedicando 30% do seu rendimento para pagar uma hipoteca de 80% do valor da casa”, explicou.
Um dos pontos de atração para os investidores do imobiliário é Lisboa, onde cidadãos chineses, brasileiros, angolanos e europeus como franceses, ingleses e espanhóis têm feito aquisições.
“Penso que Lisboa é a nova Londres. É um mercado que serve de refúgio. Em Londres há uma bolha de refúgio: sempre que há uma crise num país qualquer do mundo, pessoas que têm ali património compram casa em Londres para pôr a salvo esse património.
“Visto de fora: quando um país é estável, lindo, seguro, com infraestruturas, clima, alimentação e estilo de vida atrativo, no final os preços vão sempre subir. (…)”, explicou o responsável do Idealista.
Para Fernando Encinar, esse crescimento dos preços torna mais difícil aos locais comprar casa, mas no longo prazo é positivo.
“Se Portugal recebe pessoas com património alto, isso só lhe pode fazer bem. Não conheço nenhum país que se tenha dado mal após receber imigração de alto poder aquisitivo. A longo prazo – ainda que inicialmente seja difícil para os locais comprar casa – isso beneficia a cidade”, realçou.
Em Portugal, o Idealista afirmou-se como o segundo maior portal em conteúdos e tem planos para prosseguir o crescimento.
Das cerca de 3.200 agências imobiliárias em Portugal, contou Fernando Encinar, hoje o Idealista já trabalha com mais de 1.500, sendo “o segundo portal em conteúdos em todo o país e o primeiro de Lisboa”.
“Todas as curvas de tráfego de Internet, de reconhecimento da marca, clientes e notoriedade estão em alta (…). Queremos ser a plataforma imobiliária líder em Portugal, a referência. Quero um dia chegar a Lisboa, tomar um café e que o empregado me liga ‘Trabalha no Idealista? Comprei a minha casa através de vocês’. Isso acontece-me em Espanha e quero que aconteça também em Portugal”, concluiu.