Em Modena, Itália, um pai foi condenado a continuar a sustentar financeiramente o filho, um licenciado de 28 anos, depois de este ter decidido continuar os estudos, mesmo não tendo feito qualquer esforço para encontrar um emprego.
Dadas as circunstâncias, o progenitor recorreu aos tribunais por considerar que já não estava a obrigado a pagar-lhe nada. O objetivo era anular uma das cláusulas do divórcio assinado anos antes, onde se lia que o pai deveria assegurar a formação do filho durante toda a formação universitária.
Acontece que o homem de 28 anos demorou vários anos a completar a licenciatura em Literatura e preparava-se agora para abraçar uma nova experiência universitária — uma pós-graduação em cinema experimental. O pai disse “basta”. Era tempo de arranjar um emprego. Ao menos um part-time, pedia o progenitor, cujo nome não foi revelado por razões de confidencialidade. O tribunal não lhe daria razão. O juiz de Modena considerou que o curso de cinema experimental alimentava “as aspirações pessoais” do jovem adulto e que, portanto, os estudos deveriam continuar a ser suportados pelo pai.
A história mereceu destaque no The Telegraph, que ajuda a contextualizar o caso, reflexo de um fenómeno transversal a toda a sociedade italiana. Por ano, chegam cerca de 8 mil casos semelhantes ao de Modena, com jovens adultos a exigirem que os pais continuem a suportá-los para lá do que muitos consideram ser o tempo razoável. É o lado mais conhecido do fenómeno “bamboccioni”, qualquer coisa como “bebé grande” em português.
Os números da taxa de desemprego jovem ajudam a compor este retrato. Estima-se que tenha atingido os 40% no último ano. Além disso, só na última década, especialmente desde 2008, quando a crise rebentou em Itália (e não só), houve um aumento de disputas judiciais como esta de cerca de 20%.
Mais relevante ainda: de acordo com dados oficiais, cerca de 65% dos italianos com idades compreendidas entre os 18 e 34 anos ainda vivem em casa dos pais, a maior percentagem registada em toda a Europa, nota o The Telegraph.
Para lá destes fatores, existe o lado cultural. Tradicionalmente, os homens italianos são particularmente próximos das mães, o que faz com que o cordão umbilical entre mãe e filho se estenda para lá dos limites considerados saudáveis. São os chamados “filhinhos da mamã”, uma característica que, conjugada com os anteriores fatores, também pode ajudar a explicar o fenómeno “bamboccioni”.
Este problema é de tal forma complexo que a Associação Italiana de Advogados Matrimoniais, especializados em Direito de Família, pediram mesmo ao Supremo Tribunal italiano que definisse um limite de idade acima do qual os jovens adultos estavam impedidos de processar os pais.