As declarações de Maria Luís Albuquerque sobre uma eventual candidatura à sucessão de Pedro Passos Coelho motivaram reações distintas entre os sociais-democratas. Há os que consideram as palavras da ex-ministra das Finanças “naturais” e outros que as classificam como um “mau momento” e uma “aselhice política” da vice-presidente do PSD.

É isso que defende, por exemplo, Feliciano Barreiras Duarte, membro da Comissão Política Nacional e deputado do PSD. Ao Observador, o social-democrata diz que as palavras de Maria Luís Albuquerque são “despropositadas” e que devem “ser interpretadas como um mau momento” da ex-ministra.

[Maria Luís Albuquerque] não tem tempo suficiente de militante para se pronunciar sobre esta matéria. O PSD tem muitos militantes que no futuro, e esperemos que esse futuro seja muito longínquo, podem vir a assumir uma candidatura”, sublinha Barreiras Duarte.

Tudo começou com a entrevista de Maria Luís Albuquerque ao Diário de Notícias. Desafiada a comentar a hipótese de, um dia, avançar para a liderança do partido, a vice-presidente do PSD foi muito clara em relação ao despropósito da questão: a sucessão de Passos “não está em cima da mesa”. Mas a resposta de Maria Luís não ficou por aqui. Perante a insistência dos jornalistas, a ex-governante acabou por não fechar a porta a uma eventual sucessão de Passos. “Relativamente a matérias dessa natureza não se deve dizer nunca. Depende muito das circunstâncias. Se me pergunta se tenho vontade ou se tenho essa intenção, não a tenho, mas nestas matérias afirmações absolutas de nunca parecem-me contraproducentes”.

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Ora, Luís Marques Mendes acabaria por dar uma outra dimensão às palavras de Maria Luís. No seu habitual espaço de comentário, na SIC, o ex-líder do PSD classificou as declarações da ex-ministra das Finanças como um “erro“, que “fragiliza” e “enfraquece” a atual liderança de Passos.

Ao Observador, mesmo aqueles que reconhecem que Maria Luís não esteve bem preferem classificar a afirmação da vice do PSD como uma “aselhice” mais do que como uma “farpa política” propriamente dita. “Foi um pequeno descuido“, diz um deputado social-democrata. “Alguma falta de habilidade” e “de experiência política” de quem “poderia ter cortado logo a questão, dizendo que esse era um não-assunto”, atesta outro. “No limite, e só mesmo no limite, pode ter sido uma forma de Maria Luís se posicionar para o futuro”, reconhece outra fonte social-democrata que prefere não ser identificada.

Pedro Pinto, um velho amigo de Pedro Passos Coelho, que acompanhou todo o processo de ascensão política do ex-primeiro-ministro, desvaloriza. Com muita ironia, e sem se pronunciar concretamente sobre as declarações da ex-ministra das Finanças, Pedro Pinto atira:

Candidatos à liderança do PSD já conheço pelo menos uns dez. Mais candidato, menos candidato, não faz diferença. Com todo o respeito pela opinião do dr. Luís Marques Mendes, o posicionamento de qualquer um dos dez candidatos não fragiliza em nada a liderança [de Pedro Passo Coelho]. É de rir à gargalhada“.

A mensagem, mesmo entre os que condenam a precipitação da ex-ministra das Finanças em posicionar-se como eventual candidata, é uma: o partido está com Passos Coelho. É isso que verbaliza Fernando Virgílio Macedo, líder da distrital do PSD/Porto: “Não faz sentido falar de eventuais candidaturas à liderança do partido” quando Passos foi “eleito há dois meses, para um mandato de dois anos”.

Miguel Santos, vice-presidente do PSD/Porto, prefere desvalorizar as palavras de Maria Luís Albuquerque. “Não existe qualquer embaraço. A sucessão de Passos está completamente fora de questão. Não há assunto”, atira o deputado social-democrata.

O vice-presidente da distrital de Santarém, Duarte Marques, concorda. “Qualquer militante do PSD tem a obrigação de nunca fechar a porta a uma eventual candidatura à liderança. Tentar extrapolar ou criar outras interpretações é uma questão de má-fé”. Referindo-se ao comentário de Marques Mendes (que classificou as declarações de Maria Luís como um erro), o deputado social-democrata é perentório: “Não é erro. Erradas são as conclusões” que se tentam retirar de “uma declaração perfeitamente normal”.

No PSD, no entanto, há muito que existe a perceção de que Pedro Passos Coelho estará a preparar uma eventual linha de sucessão em torno de figuras com Jorge Moreira da Silva, que o sucedeu na liderança da JSD, ou precisamente de Maria Luís Albuquerque.

O facto de a ex-ministra não ter fechado a porta a essa sucessão pode ser interpretado como uma forma de marcar lugar na pole position social-democrata? “Acho, muito honestamente, que ela não teve essa intenção“, reitera Virgílio Macedo.

Também Pedro do Ó Ramos, deputado social-democrata e presidente da Comissão Política Distrital do PSD de Setúbal, círculo pelo qual Maria Luís foi eleita deputada, acredita que a ex-ministra não se tentou “colocar em bicos de pés”. “Maria Luís não estava a falar de um cenário que se venha colocar” a médio e longo prazo.

No futuro, e se assim o entender, terá luz verde, diz o deputado. “Maria Luís Albuquerque é o presente e o futuro do partido. Se tiver disponibilidade e se for essa a sua vontade tem todo o perfil para vir a liderar o PSD no futuro”.