Amir Jasim Shamo é um menino sírio de 13 anos que tinha um sonho: chegar à Europa. No pico do inverno, Amir embarcou na Turquia para tentar atravessar o mar Mediterrâneo e chegar às ilhas gregas. Depois de atracar em Farmakonisi, Amir desapareceu.

Segundo um relatório da Europol, Amir é apenas uma das mais de 10.000 crianças refugiadas que desapareceram depois de chegarem à Europa, desde 2015.

A Missing Children Europe é uma rede de mais de 30 organizações não-governamentais, com sede em Bruxelas, que espalha cartazes com fotografias e dados que permitem identificar crianças desaparecidas. Em muitos desses cartazes está a cara de Amir. Outro cartaz mostra dois meninos sírios que desaparecem: Alnd de cinco anos e Roder, o seu irmão de quatro anos. O tio dos dois rapazes, Othman, contou que Alnd e Roder eram inseparáveis.

Depois de uma viagem de vários dias entre a Síria e a Turquia, os meninos embarcaram com a família em direção à Grécia, em busca de um refúgio da guerra, de uma vida melhor. Mas a embarcação nunca chegou a terra. Afundou ao largo da costa grega e os tripulantes foram resgatados pela guarda costeira turca. Quando a contagem dos resgatados foi feita, os irmãos tinham desaparecido.

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A família recorreu à Missing Children Europe para encontrar os meninos. A organização apressou-se a espalhar cartazes por toda a Europa para ajudar na procura dos dois irmãos.

O El Mundo explica que esta iniciativa levada a cabo pela Missing Children Europe (MEC) é a primeira do género — a focar-se somente em crianças –, desde que começou a crise dos refugiados, em 2015.

A responsável pelos refugiados da rede de ONGs, Federica Toscano, explicou que desde o início da crise de refugiados que a MEC se tem encarregado de procurar os desaparecidos, mas que desta vez escolheu uma campanha focada principalmente em crianças como forma de “sensibilizar os europeus para a situação”.

Federica ressalvou que não aparecem nem vão aparecer fotografias de todas as crianças. “Antes de tornar pública a fotografia, avaliamos se a sua divulgação pode pôr em causa a sua segurança”, explicou a responsável pelos refugiados.

As crianças que desaparecem

Amir não foi a única criança que procurava atingir a Grécia a aparecer nos cartazes da Missing Children Europe. Dois irmãos, Alkafagi, de seis anos e o irmão bebé, Mohamed de um ano, desapareceram na mesma rota.

Os irmãos Abaas viajavam sozinhos, talvez separados da família numa fronteira do Mar Mediterrâneo, como acontece a muitas das crianças que procuram um porto seguro na Europa.

Os países onde se registam mais desaparecimentos são a Alemanha, Bélgica, França, Itália e Reino Unido e a rota dos Balcãs (Grécia, Macedónia, Sérvia, Hungria e Áustria).

Delphine Moralis, secretária geral da MEC, afirmou que as buscas nestes casos costumam “ser muito lentas, na maior parte das vezes por falta de informação” que não permite ter uma imagem “geral do problema”.

Uma representante da UNICEF explicou ao El Mundo o processo que pode levar uma criança a desaparecer:

“Para estes desaparecimentos podem contribuir uma série de situações: os pequenos podem estar onze meses há espera num centro de acolhimento até que o país de acolhimento examine o seu pedido de asilo. Muitas vezes estes menores passam pelo processo sem um representante legal ou um tradutor e sem saberem os seus direitos. Muitas vezes nem têm um sítio para dormir devido à saturação. Estas situações aumentam o desespero e impulsiona-os a fugir.”

Dados da UNICEF informam que mais de 90% das crianças que chegam a estes centros têm entre 14 e 17 anos e vêm, principalmente, do Afeganistão, África Subsariana, Iraque, Marrocos e Síria.