Numa fase em que ninguém parece confiar no Governo turco e a sua integração na União Europeia está cada vez mais distante, importa ter presente o peso que a Turquia tem na indústria automóvel e o que representa para o mercado europeu. Até 2002, a produção de veículos neste país da Eurásia – em que 97% da sua superfície está do lado asiático, ou seja, do lado de lá do Bósforo – rondava anualmente 370 mil veículos, valor que em 13 anos disparou para os actuais 1,359 milhões de unidades, 75% dos quais rumam à Europa.

É claro que este incremento não caiu do céu, nem foi obra dos turcos. Foi, sim, fruto de um investimento superior a 11 mil milhões de euros, que chegaram a este país de 80 milhões de habitantes e uma área de 780 mil km2 (sensivelmente oito vezes maior do que Portugal, em ambos os domínios) pela mão de construtores como a Fiat, Ford, Hyundai, Mercedes e Renault.

Todos os anos, entre 900 mil e 1 milhão de veículos cruzam o Bósforo em direcção à Europa, o que representa uma lufada de ar fresco – e de euros, pois supera largamente 20 mil milhões de euros anuais – para a economia do país gerido de forma autoritária por Recep Erdogan, o presidente do Governo de Ancara. Resta agora saber como vão evoluir as negociações entre a Turquia e a Europa, e acompanhar a forma como os turcos irão aceitar a cada vez mais provável não admissão na União Europeia, prometida há muito, bem como conhecer o nível de retaliações que certamente se irá seguir.

Mas, no que respeita à indústria automóvel e aos interesses dos fabricantes envolvidos – muitos deles ainda a braços com a crise e o consequente embargo ao sector na Rússia –, urge acompanhar de perto o que vai acontecer num país que é o 15.º maior produtor de veículos no mundo e o 5.º entre os europeus, apenas atrás da Alemanha (6,033 milhões, dados de 2015), Espanha (2,733 milhões), França (1,970 milhões) e Reino Unido (1,682 milhões), mas ainda assim à frente da República Checa (1,303 milhões) e da Itália (1,014 milhões).

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