Portugal e Espanha habitam “planetas diferentes”, neste momento, no que diz respeito à perceção de risco entre os investidores em dívida pública. A análise é dos especialistas do Commerzbank, que dizem que não é provável que o IGCP arrisque, hoje, agendar um leilão de dívida de longo prazo para a próxima semana.

A haver leilão de dívida de longo prazo na próxima, este deveria ser agendado até esta sexta-feira. Essa é a prática habitual da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP). Mas os analistas Markus Koch e David Schnautz dizem, em nota enviada aos clientes, que o Tesouro português não deverá tomar a iniciativa de marcar uma emissão de dívida numa semana em que apenas enfrentaria a concorrência de um leilão na Alemanha. “Receios quanto aos ratings” estão a penalizar os juros da dívida portuguesa.

Os receios dos investidores de que Portugal possa perder o rating da DBRS, agência que na terça-feira lançou um alerta ao governo português, está a manifestar-se na subida dos juros de Portugal nos mercados — não só em termos absolutos mas, sobretudo, na comparação com outros emitentes como Espanha. Portugal pagou os juros mais baixos de sempre, esta semana, numa emissão de dívida mas essa foi uma emissão de bilhetes do Tesouro (dívida de curto prazo), que apenas em situações extremas tenderá a ressentir-se da instabilidade.

Juros de Portugal divergem das taxas espanholas

GSPT10YR Index (PORTUGUESE GOVER 2016-08-19 08-39-50

Os juros de Portugal (na dívida de longo prazo) não se tem afastado dos 3%, graças às compras por parte do BCE, mas na comparação com Espanha o desempenho dos juros é muito desfavorável. (gráfico em base 100 nos últimos três meses)

O Commerzbank diz que há uma “dicotomia” entre as taxas de juro de Espanha e de Portugal, sobretudo depois de Mariano Rajoy e Albert Rivera (do Ciudadanos) terem chegado a acordo para que tenham início as negociações com vista à formação de governo. “Isso abriu a porta para que possa terminar o impasse político em Espanha”, afirmam os analistas, notando que, “por outro lado, Portugal continua a ser alvo de receios relacionados com os ratings” — não só devido ao alerta da DBRS mas, também, porque a Fitch deverá fazer uma atualização do rating esta sexta-feira.

A agência Fitch cortou em março a perspetiva para o rating português, que estava em “positiva” e passou para “estável”. Se voltar a haver um corte (para negativa), ou mesmo se a Fitch empregar um discurso cauteloso, “poderá haver uma reação negativa nos mercados”, diz o Commerzbank.

Por estas razões, e apesar dos juros mínimos no curto prazo, Portugal não deverá aproveitar a janela de oportunidade para fazer um leilão de dívida de longo prazo na próxima semana, diz o Commerzbank, que recomenda aos seus clientes uma atitude “cautelosa” em relação à dívida nacional. Talvez na próxima semana, admite o banco, seja agendada uma emissão para o dia 31 de agosto.

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