“Vigilância apertada”. A agência de rating DBRS, decisiva para Portugal, diz que está a manter um “sharp eye“ sobre tudo o que se está a passar no país, designadamente as “pressões orçamentais que estão a formar-se” e as “possíveis responsabilidades que podem emergir no setor bancário“. Mais do que tudo, porém, a DBRS diz ao Observador que está “preocupada” com o facto de “não ser claro se o governo está ou não disponível” para anunciar novas medidas de austeridade, “como está a ser pedido pela Comissão Europeia. Irão os partidos da esquerda apoiar essas medidas? “Não sabemos“.
Os juros da dívida de Portugal, que têm beneficiado nos últimos dias das compras de dívida britânica por parte do Banco de Inglaterra, dispararam esta terça-feira 15 pontos base na maturidade a 10 anos, para os 2,84%. O agravamento do risco surgiu depois de Fergus McCormick, responsável máximo da DBRS pelos ratings de dívida soberana, ter dado uma entrevista à Reuters que, pelo efeito nos juros, mostrou a importância que esta agência tem para o acesso ao mercado de dívida por parte de Portugal.
Na entrevista à Reuters, publicada esta terça-feira, McCormick mostrou-se preocupado com o crescimento fraco registado no segundo trimestre e com os sinais pouco animadores que a agência vê para o futuro imediato. Contactado pelo Observador, o responsável lamentou que “há sinais de que o [crescimento económico no] terceiro trimestre também será pobre“.
“O crescimento baixo significa que haverá um desafio maior da perspetiva da consolidação orçamental”, diz Fergus McCormick, ao Observador. O alerta, que foi notado pelos analistas e investidores no mercado de dívida europeu, surge cerca de dois meses antes de a agência se pronunciar novamente sobre a notação de crédito de Portugal — a próxima data pré-agendada é em meados de outubro.
Para já, contudo, a DBRS não só mantém o rating no nível mais baixo acima de lixo como continua a atribuir uma “perspetiva” estável à notação de crédito. Como ficou claro em fevereiro, altura em que os juros de Portugal ascenderam aos 4,5%, bastaria uma despromoção dessa “perspetiva” para que os investidores na dívida portuguesa fizessem refletir no custo do financiamento externo o receio de que o Banco Central Europeu (BCE) poderia deixar de apoiar-se nesse rating para comprar obrigações do Tesouro nacional.
Nos próximos dois meses, DBRS manterá um “sharp eye” sobre Portugal
A dois meses da apresentação do próximo Orçamento e da decisão da DBRS, o aviso fica, assim, dado: “Estamos a manter Portugal debaixo de olho, atentamente [a expressão em inglês é we are keeping a sharp eye], por causa das pressões orçamentais que estão a formar-se e das responsabilidades que podem emergir no setor bancário”.
Na longa entrevista que Fergus McCormick deu ao Observador em março, ficou claro que a sintonia entre o governo português e a Comissão Europeia é o fator mais importante para a análise da única agência de rating que considera a dívida nacional um investimento minimamente seguro — as outras três agências reconhecidas pelo BCE — Moody’s, S&P e Fitch — recomendam-na apenas aos investidores mais especulativos e não a investidores como seguradoras e fundos de pensões.
Agora, Fergus McCormick tem dúvidas sobre a disponibilidade do governo para apertar o cinto.
“Irão os partidos de extrema-esquerda que apoiam o governo dar o seu apoio a mais medidas de consolidação orçamental? E será que apoiarão uma recapitalização bancária se for necessário? Não é claro se assim será”.
O Jornal de Negócios escreveu esta terça-feira que mesmo que a economia cresça apenas 0,8% este ano (e não os 1,8% inscritos no Orçamento do Estado), o défice público deverá, mesmo assim, ficar em 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016.
A DBRS parece menos otimista e diz que estará atenta ao que acontece em Portugal nos próximos meses. Para já, “mantemos o rating em BBB-, com perspetiva estável“. “Um rating que, note bem, é uma notação muito mais baixa do que os ratings A- que atribuímos a Espanha e Itália“, diz Fergus McCormick ao Observador.