Claire Harman escreveu no ano passado a biografia de Charlotte Brontë, intitulada de Charlotte Brontë: A Life. No entanto, apesar de todas as descobertas feitas sobre a autora de Jane Eyre, também a irmã Emily do clã Brontë captou o interesse da autora. Uma das informações avançadas por Harman no Festival Internacional do Livro de Edimburgo, na Escócia, é a de que Emily Brontë pode ter tido o Síndrome de Asperger. A inaptidão social é uma das principais características apontadas.
Vários traços da personalidade de Emily terão comprovado a Claire Harman que a escritora de O Monte dos Vendavais teria alguns sintomas do Síndrome de Asperger. A dificuldade de interação social, os gostos específicos e quase peculiares e os comportamentos repetitivos, que caracterizam a doença neurológica, seriam, segundo a biógrafa, visíveis em Brontë. Além da velha clássica de que “os génios são incompreendidos”, a escritora britânica revelava não gostar de sair de casa, mostrava-se desconfortável em situações sociais, tinha ataques de irritação e facilmente ficava frustrada.
Segundo o The Guardian, um dos episódios referidos no festival de Edinburgh — e que terá sido escrito na primeira biografia da irmã, Charlotte Brontë, por Elizabeth Gaskell — foi a de que Emily terá tido um comportamento violento para com o cão da família, deixando-o com mazelas físicas. A justificação foi a de que o animal de estimação terá sujado a roupa, acabada de lavar.
Claire Harman declara mesmo que “Charlotte e todos os membros da família teriam um pouco de medo de Emily” Brontë. “Conter a Emily, proteger a Emily, e não se sentirem alarmados por ela, era um grande projeto para toda a família. Ela era uma pessoa fascinante, mas muito problemática também”, acrescenta a biógrafa.
O clássico O Monte dos Vendavais também não foi deixado de fora da reflexão. A biógrafa literária acredita que a visão romanceada do livro, não tem em conta as cenas de violência do enredo: a paixão obsessiva entre Heathcliff e Catherine Earnshaw acaba por afetar todos as personagens, onde não falta a vingança e o desgosto amoroso. Além disso, Claire Herman acredita que o irmão Branwell terá ajudado Emily na escrita do romance.
Em 2012, já o jornal Huffington Post reunia numa lista alguns escritores cujo diagnóstico de maleitas físicas e psíquicas parecia claro à luz da medicina do século XXI. Entre os selecionados, constava a família Brontë, nomeadamente as seis irmãs que morreram de tuberculose. Três delas tinham sintomas de depressão — explicados em parte pela infância e a adolescência difícil num colégio feminino, onde foram maltratadas e violentadas. No jornal, Emily é descrita como “inteligente e estranha, provavelmente tinha Síndrome de Asperger e transtorno de ansiedade”.
Já outros, como Dolores Monet, admiradora do trabalho do clã Brontë, recorda a propósito da suposição de que Emily sofria do Síndrome de Asperger que a família criou reinos de fantasia, um chamado Angria e outro com o nome de Gondal. A autora foi mais além do que os irmãos: até aos 30 anos, escreveu vários géneros literários sobre a saga do reino Gondal, demonstrando um interesse peculiar e quase obsessivo face ao tema.
Em 2018 celebram-se 200 anos do aniversário de Emily Brontë, porém Claire Harman, que escreveu a biografia da irmã Charlotte, diz “ser demasiado tarde para escrever uma biografia” de outro elemento da família.