“Adeus, Rosetta. Cumpriste a tua missão”. Foi assim que o responsável pela missão da sonda espacial pioneira no estudo dos cometas, Patrick Martin, se despediu. Esta sexta-feira foi o último dia de vida da sonda especial Rosetta, lançada em março de 2004 para estudar o cometa 67P, que orbita perto de Júpiter. A sonda, lançada pela Agência Espacial Europeia (ESA), vai aterrou, numa queda controlada, no cometa que tem vindo a estudar ao longo dos últimos dois anos, às 11h40 (hora de Lisboa). Quarenta minutos depois, chegou à Terra o sinal que indica o final da missão. Antes de se pousar — a uma velocidade de 90 centímetros por segundo –, a Rosetta teve tempo para uma última missão: fotografar a superfície do cometa a apenas 15 metros de altitude e ainda recolher dados dos gases que envolvem o cometa.
Ao longo de 12 anos, a Rosetta percorreu 6.400 milhões de quilómetros, chegando às proximidades de Júpiter em 2014. Nesse ano, saiu da hibernação e começou a recolher dados sobre o cometa 67P. Conseguiu obter mais de 100 mil imagens da superfície e enviou o robô Philae ao cometa para recolher material, produzindo dados que serão estudados ao longo das próximas décadas pela comunidade científica.
Acompanhe aqui o final da missão da Rosetta:
À Euronews, o diretor do projeto da ESA, Matt Taylor, explicou a decisão de acabar a missão agora com uma analogia “com uma banda de rock dos anos 60 ou 70: sabemos que há algumas que ainda fazem espetáculos e já não conseguem cantar, o reumatismo pode impedi-los de tocar bem os instrumentos, portanto queremos fazer isto com a estrela de rock que é a Rosetta, terminar enquanto está no máximo da capacidade”.
“A Rosetta é comparável à ida à lua”, diz ao The Guardian o diretor de operações da ESA, Andrea Accomazzo. A sonda foi a primeira construída para orbitar e para pousar num cometa, e o Philae foi o primeiro objeto criado por um humano a pousar lá. Agora, a ideia é que a Rosetta se aproxime do cometa, consiga pousar de forma suave na superfície e desligue os sistemas. De acordo com Accomazzo, “pousá-la é algo psicológico”, uma espécie de funeral à sonda responsável por algumas das descobertas mais fascinantes dos últimos tempos. “Podíamos tê-la abandonado no espaço, ou deixá-la cair no cometa e simplesmente desligá-la. Não haveria nenhum problema”, explica.
A última imagem tirada pela Rosetta (ainda sem edição) foi partilhada no Twitter pela ESA.
Busy scanning my target #CometLanding region! pic.twitter.com/CYhEnl35TT
— ESA Rosetta Mission (@ESA_Rosetta) September 30, 2016
Depois de a pequena sonda Philae ter pousado, foram descobertas algumas novidades no cometa — que precisam agora de confirmação através do estudo dos dados recolhidos. A Philae registou a existência de moléculas orgânicas no cometa, o que poderá indicar a existência de vida microbiana. Além disso, a análise dos gases que envolvem o cometa também revelaram a possibilidade de existirem componentes essenciais à vida. No 67P há ainda uma camada de gelo, coberta por uma camada de poeira.
De acordo com Matt Taylor, “a Rosetta fez-nos mudar a ideia que tínhamos sobre o que são os cometas”. Sublinhando que a missão da sonda é “tanto em órbita como à superfície, com a Philae”, o investigador garante: “temos décadas de ciência para fazer com os dados recolhidos pela Rosetta”.
O estudo dos cometas é fundamental para o entendimento de como a vida apareceu na Terra, porque são elementos fundadores do sistema solar. Ainda mantêm muitos dos componentes que estavam presentes na Terra na altura em que foi formada, e podem explicar o que levou ao aparecimento da vida no planeta.