As coisas descontrolaram-se na madrugada de segunda para terça-feira em Aguiar da Beira. Os militares Carlos Caetano e António Ferreira, dois agentes da Guarda Nacional Republicana, estavam destacados para fazer o patrulhamento junto a um local de construção onde se está a erguer um hotel. Não faltava muito para o nascer do sol quando os dois encontraram um veículo parado ao pé das obras. Aproximaram-se. Carlos não podia imaginar que se estava a aproximar da morte.

O homem que Portugal procura

Dentro do carro estava Pedro João Ribeiro e Costa de Pinho Dias, o nome que constava na carta de condução e documento de identificação encontrado no bolso do agente Carlos, morto nessa madrugada aos 29 anos. Pedro Dias não é de Aguiar da Beira: vive em Arouca, distrito de Aveiro, e é conhecido por “Piloto” pela vizinhança. Tudo porque tem licença de pilotagem de aviões. Nasceu em Angola, numa família com uma situação financeira bastante confortável. Aos 44 anos, divorciado e com uma filha, Pedro voltou a viver com os pais – um engenheiro que gere uma empresa de exploração de madeira e uma professora – na Quinta dos Guardais, na Várzea. E é há muito considerado um homem perigoso pelas autoridades. A polícia diz que recebeu treino militar nos anos em que viveu na África do Sul como emigrante.

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Pedro João Dias. Créditos: Facebook.

Os crimes de Pedro

De principal suspeito de um assalto que correu mal, Pedro João Dias passou a homicida. Matou duas pessoas e causou ferimentos graves a outros três. Primeiro foi Carlos Caetano, o GNR de 29 anos natural de Aguiar da Beira que vivia não muito longe do local onde foi baleado, na Quinta das Lameiras. Tinha dois irmãos, entre os quais uma menina de 13 anos, e estava a viver há pouco tempo com a namorada.

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Outros dois militares da GNR foram feridos nas operações de captura ao homem que é agora o mais procurado de Portugal. O ‘Piloto’ matou ainda um civil: Luís Pinto, de 25 anos, casado com Liliane, 29 anos, que se encontra em estado grave com um traumatismo cranioencefálico. Ambos foram abordados por Pedro João Dias quando este lhes exigiu que saíssem do carro onde seguiam para uma consulta de fertilidade em Coimbra. Mas Pedro João precisava do veículo para fugir das autoridades. Como o casal não obedeceu, disparou contra eles. Luís morreu, Liliane está a lutar pela vida.

Prosseguem buscas em S. Pedro do Sul para encontrar suspeito de crimes de Aguiar da Beira

Militares da GNR durante buscas para encontrar o suspeito dos crimes de Aguiar da Beira, perto da localidade de Candal. Há 200 agentes no local. Créditos: PAULO NOVAIS/LUSA

Não é este o “Piloto” que a vizinhança conhece. Enquanto a polícia o descreve como “alguém que é uma pessoa fria e calculista”, o presidente da Câmara de Arouca descreve-o como “um bom rapaz, dava-se com toda a gente”. Mas não era segredo para ninguém que por muitas vezes se envolveu em problemas. Tanto que já era conhecido da polícia: a empresa em nome individual sediada na Várzea que Pedro comanda, dedicada à produção animal, foi alvo de buscas há poucos anos. A operação resultou na apreensão de vários animais de espécies protegidas e autóctones – entre os quais um primata que está agora no Jardim Zoológico da Maia, e de 52 aves protegidas pelo Comércio Internacional de Espécies da Fauna e da Flora Selvagem Ameaçadas de Extinção. Durante essas buscas também foram encontradas duas caçadeiras de canos serrados, duas armas de especificidade desconhecida e munições de vários calibres.

O paradeiro

Neste momento, Pedro João Dias é o homem mais procurado de Portugal. Desde esta terça-feira que a Polícia Judiciária e o Grupo de Intervenção e Operações Especiais da GNR está a vasculhar a zona florestal do Candal, Póvoa de Leiras e Coelheira (Viseu) em busca dele, sem nunca descartar a hipótese de já ter voltado a Aveiro ou mesmo de ter conseguido chegar a Espanha. Os familiares e uma eventual namorada, uma professora de Sátão com quem tem sido visto, já foram interrogados. Alguns objetos de Pedro, que pode estar ferido, foram encontrados numa das margens do rio em Candal. No entanto, o seu paradeiro continua desconhecido. O treino militar pode servir-lhe para sobreviver por aqueles montes de minas de água e de volfrâmio por vários dias. Não será completamente impossível: a GNR sabe que Pedro conhece bem a região onde está a ser procurado.