Pedro Passos Coelho disse, António Domingues desdisse, e agora Pedro Passos Coelho reafirma e exige mais explicações. Numa entrevista dada ao jornal Público esta sexta-feira, o ex-primeiro-ministro e presidente do PSD fez duras críticas à forma como o Governo de António Costa conduziu o processo da recapitalização da CGD e afirmou que António Domingues, antigo vice-presidente do BPI, teve acesso a informação privilegiada antes de ser nomeado gestor do banco. Uma acusação que foi desmentida este domingo, também no Público, pelo presidente da Caixa, reiterando o que já tinha dito aos deputados numa audição no Parlamento: que não teve acesso a qualquer informação privilegiada antes de ter aceitado o cargo.

Mas Passos Coelho não ficou satisfeito com a garantia de Domingues e, este domingo, em declarações aos jornalistas em Santarém, à margem de uma visita ao festival nacional de gastronómica, disse que a carta do presidente da Caixa publicada este domingo “é para atirar areia à cara das pessoas”. “Não responde às dúvidas que coloquei e atira um bocadinho de areia para a cara das pessoas. E se é para atirar areia à cara das pessoas não valia a pena estar a pagar aos novos administradores o dobro do que se pagava à anterior administração“, disse, referindo-se ao aumento de salários que foi atribuído pelo atual Governo à nova gestão do banco.

Para Passos Coelho, este “é um mau começo” para a nova administração da Caixa. O atual presidente do banco público, lembra Passos Coelho, já negociou no passado (quando era vice-presidente do BPI) planos de recapitalização com a Comissão Europeia e “sabe com certeza que quando se negoceia um plano tem que se ter, pelo menos, informação sobre a carteira de clientes e de créditos do banco”, que não é de acesso público.

O líder do PSD assinala ainda que António Domingues se socorreu de uma consultora antes de ser presidente da Caixa para estudar um plano de recapitalização para o banco do Estado e conclui que não se limitou, com certeza, a olhar para o balanço e para a informação que é pública.”É preciso olhar para esta questão com mais seriedade. Estamos a falar de muito dinheiro dos contribuintes. E “das duas uma, ou o plano foi negociado com Bruxelas com base no trabalho do atual presidente que não teve acesso à informação adequada — como argumenta António Domingues –, e isso significa que é uma mistificação política, ou é um logro e vai ter de ser negociado outro plano”, diz o presidente do PSD.

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Em agosto, o Governo e a DG Comp (direção geral de concorrência da Comissão Europeia) anunciaram o acordo sobre as linhas gerais de um plano de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos num valor até 5.160 milhões de euros, que inclui uma injeção de fundos públicos de 2.700 milhões de euros. Mas o plano concreto e o montante exato da recapitalização ainda têm de ser afinados e validados em Bruxelas.

O Governo remeteu para a nova administração da Caixa, que entrou em funções no final de agosto, a missão de quantificar as necessidades de capital do banco, já depois de ter acesso à informação confidencial, nomeadamente sobre os créditos em risco.

Passos Coelho voltou a existir explicações sobre a informação usada e de que maneira foi feito o plano. “Vão ter de ser dadas explicações ao País”. Ou se trata de uma mistificação política, repete, ou o presidente da Caixa “perdeu uma boa oportunidade para estar calado”. O líder do PSD insistiu ainda que é preciso começar a responder perante o Parlamento sobre o que vai constar do plano de recapitalização e de reestruturação.

O tema já foi várias vezes discutido na comissão de inquérito, onde aliás foi já ouvido o novo presidente da Caixa. Mas para Passos Coelho este é mais um caso que torna claro que o processo da Caixa foi mal conduzido, defendendo que é tempo de emendar o que classificou de manual de “más práticas”.

Na resposta de António Domingues a Passos Coelho, o presidente da Caixa garante que “não é verdade que tenha tido acesso a qualquer informação privilegiada da CGD para elaborar o plano estratégico que suportou as negociações do Governo português com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu”. “Quem conhece o setor e tem experiência adequada sabe que a informação pública disponível era suficiente para a elaboração de tal plano”, acrescenta.

“Começa por não ser verdade, como já referi, que tenha tido acesso a informação privilegiada — quem se der ao trabalho de ler e entender os relatórios e contas da CGD fica a saber tudo aquilo que há a saber. Dito isto, naturalmente que as respostas a perguntas da Comissão Parlamentar de Inquérito relativas ao período já sob a minha responsabilidade foram também circunscritas, como inquestionavelmente é meu dever, pelo escrupuloso cumprimento das obrigações legais da instituição, que desejavelmente deveriam ser conhecidas e respeitadas por todos”, escrevia António Domingues este domingo.