O presidente do Centro Hospitalar de Lisboa Norte (CHLN), que inclui o Hospital de Santa Maria, diz, em entrevista ao Público, que prefere “ir a tribunal por não cumprir um despacho do que por homicídio”. Carlos Martins, antigo secretário de Estado da Saúde do PSD, referia-se ao despacho do Governo que determina que os hospitais devem pedir autorização para todas as despesas.

“É uma lei que nos obriga a um conjunto de medidas de planeamento”, já que as instituições têm de garantir que podem pagar em três meses as compras que fazem. “Mais importante do que esse despacho é a lei dos compromissos”, assegura, garantindo que “em momento algum a vida de um doente à nossa responsabilidade ou a sua qualidade de vida estará em causa, sob pena de eu próprio abrir um processo disciplinar”. “Prefiro ir a tribunal por incumprimento da lei dos compromissos ou de um despacho do que ir a tribunal por homicídio”, remata.

Carlos Martins comentava uma medida do atual Governo para controlar as despesas nos hospitais, mas já em 2014, em entrevista ao Jornal de Negócios, defendeu o mesmo princípio: “Prefiro ir a tribunal por um ato de gestão do que por homicídio”

Ao Público, o responsável pelo “maior hospital universitário do país” garante que a instituição está em crescimento, depois de, em 2013, a abertura “dramática” do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, ter atraído “33% a 34%” dos utentes do Santa Maria. “Essa diminuição não foi acompanhada por uma redução dos recursos humanos”, recorda Carlos Martins, acrescentando que ao chegar à posição de presidente do Conselho de Administração “o CHLN estava em falência técnica”. A partir de 2014, sublinha, tem havido “crescimentos em toda a atividade clínica”, e atualmente, “na urgência, o nível de atendimento está semelhante ao que tínhamos à data da abertura do Beatriz Ângelo.

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Carlos Martins destaca ainda que sente uma “tranquila insatisfação” relativamente ao número de profissionais, porque, apesar de ter perdido médicos e enfermeiros nos últimos anos “com 10, 15 anos de experiência em áreas críticas”, assegura que “o saldo é positivo”.

“Não quero que o Governo me ajude a 100%” com a dívida do hospital

Sobre a dívida de 275 milhões de euros do CHLN, Carlos Martins reconhece que “com a abertura do Beatriz Ângelo perdemos receita de forma brutal e ficou cá a despesa, que ronda os 400 milhões de euros por ano”. O presidente do centro hospitalar sublinha, ainda que quer “resolver metade da dívida”. “Não quero que o Governo me ajude a 100%”, explica. No próximo ano, Carlos Martins espera que o contrato-programa com o Governo traga 375 milhões de euros ao CHLN. “Nós temos capacidade para demonstrar que merecemos 375 milhões de euros pela atividade que desenvolvemos e as projeções que fizemos”, assegura.