A Juventude Popular (JP) reagiu esta semana à versão preliminar de um relatório da Direção-Geral de Educação e da Direção-Geral de Saúde que estabelece os princípios orientadores daquilo que deve ser a educação para a saúde nas escolas, apresentando um conjunto de propostas que passam pela defesa de que as crianças devem receber educação para a abstinência sexual tal como são informadas sobre os métodos contracetivos. O ex-líder da Juventude Socialista não gostou da proposta que apelidou de “ridícula” e o líder da JP reagiu à reação.
No conjunto de seis propostas, avançadas pelo jornal i e a que o Observador teve acesso, os jovens democratas-cristãos defendem que “não é aceitável que se planifiquem, a partir do 5º ano, aulas sobre métodos contracetivos, mas que a primeira palavra sobre abstinência sexual seja proferida apenas no 10º ano”. E por isso defendem que a educação para a abstinência sexual seja feita a par com a educação para a utilização de métodos contracetivos.
“Qual é a lógica que justifica que uma criança de 10 anos possa aprender tudo sobre a utilização correta do preservativo, mas tenha de esperar pelos 15 anos para poder discutir a mera hipótese da abstinência sexual?”, perguntam, acrescentando que “se o objetivo é promover uma liberdade responsável, os alunos podem ter acesso a informação sobre a contraceção, mas também devem receber uma educação para a abstinência”.
A par desta proposta, os jovens liderados por Francisco Rodrigues dos Santos, defendem ainda que a gravidez indesejada “não seja inventariada ao lado das IST (infeções sexualmente transmissíveis), como se se tratasse de mais uma doença que os contracetivos ajudam a prevenir”. “A educação sexual também serve para combater a perceção de que um filho é um empecilho, um aborrecimento ou uma surpresa desagradável”, afirmam, defendendo que o aborto não seja ensinado nas escolas “a crianças com 10 anos de idade”.
Entre a política de avestruz à la tea party e o bordel intelectual
Perante estas propostas, o deputado João Torres, ex-líder da juventude socialista (substituído no congresso deste fim de semana pelo deputado Ivan Gonçalves), reagiu na sua página de Facebook, iniciando uma troca de acusações entre os ‘jotas’. “Perdoem-me o excesso, mas quando soube que uma organização política de juventude propõe a educação para a abstinência sexual nas escolas apenas me ocorreu uma outra proposta, neste contexto certamente mais urgente: a educação para o decoro político. Felizmente para alguns, o ridículo ainda não mata ninguém”, escreveu.
Também o deputado socialista Tiago Barbosa Ribeiro usou a mesma rede social para dizer que a proposta dos jovens democratas-cristãos se baseia em “preconceitos ideológicos (sobre o corpo, a sexualidade, a sua naturalidade e as suas responsabilidades)”. “Uma espécie de política de avestruz com as roupagens de um tea party à portuguesa. É esse país passado cheio de tabus que ainda está na cabeça de algumas pessoas. Não, obrigado”, escreve o deputado responsável pela pasta do trabalho e segurança social no Parlamento.
Não indiferente às críticas, o líder da Juventude Popular, Francisco Rodrigues dos Santos, escreveu em jeito de direito de resposta, uma defesa das suas propostas e críticas duras ao ex-líder da juventude socialista.
“Um jota recém jubilado, militante do socialismo democrático, que (paradoxalmente) há bem pouco tempo rejubilava pelos resultados de um barómetro ideológico que registava a sua ultrapassagem pela esquerda aos jovens marxistas-leninistas, vem hoje lançar ferozes críticas à Juventude Popular por esta defender que a crianças de 10 anos deve ser ensinada a abstinência, a par da explicação sobre os métodos de contraceção. Na verdade, o revolucionário cultural não se preocupou em ler a notícia. Ficou-se pelas gordas na capa. E assim ganhou a oportunidade de mergulhar de cabeça no lamaçal político. Quem vive do comentário das letras grandes será pequeno toda a vida. É preferível, segundo as suas teses, exorcizar o fantasma da abstinência na infância, ao passo que se banaliza a prostituição. Bem vindos ao bordel intelectual de alguns senhores“, escreve.