Os vereadores da Câmara Municipal do Porto aprovaram por unanimidade esta terça-feira, em reunião de Câmara, o arrendamento do Cinema Batalha por 25 anos. A decisão de recuperar o emblemático cinema da cidade foi elogiada, enquanto Rui Moreira aproveitou para explicar que o objetivo é dotar o equipamento de “direção e uma curadoria próprias”, e não ser uma versão mais pequena da Cinemateca.

Em resposta ao vereador Pedro Carvalho, da CDU, que quis saber se o Ministério da Cultura, através da Direção-Geral das Artes, vai dar algum apoio ao projeto, financeiro e não só, o presidente da Câmara do Porto revelou ter falado já com a tutela, no sentido de garantir que o Cinema Batalha terá acesso ao espólio da Cinemateca. “Temos tido muita dificuldade em trazer qualquer programação da Cinemateca ao Porto“, disse, acrescentado de seguida: “Não queremos ser uma extensão da Cinemateca, mas sim ter uma direção e uma curadoria próprias.”

Para Rui Moreira, “mais importante do que a questão de financiamento foi a promessa [do Secretário de Estado da Cultura, Miguel Honrado] do ‘sim’ em relação a fazer uma justa articulação com a Cinemateca a partir do momento em que temos um equipamento como este”. O Observador questionou o Ministério da Cultura sobre o possível apoio ao projeto, mas ainda não obteve resposta.

Inaugurado em 1947 e classificado como Monumento de Interesse Público em 2012, o Batalha fechou no ano 2000. “Quando cá chegámos, não havia cinema na cidade sem ser no [centro comercial] Dolce Vita”, lamentou o presidente, eleito em 2013. Desta forma, o Executivo “fecha o ciclo de voltar a trazer o cinema à Baixa”, ao qual se juntará em breve o também reabilitado Cinema Trindade, ao mesmo tempo que liberta o Teatro Rivoli dos vários ciclos de sétima arte que acolhe atualmente, e que obrigam a uma interrupção da programação artística. Em simultâneo, a autarquia reabilita a zona envolvente ao Batalha.

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“Era inaceitável que o edifício permanecesse naquele estado. Era uma ferida na cidade que ninguém entendia e tem um valor absolutamente simbólico. Se falarmos da liberdade, aquele cinema foi um ponto de conflito entre a liberdade e a não liberdade. Ainda bem que não fizeram ali um hotel“, disse Rui Moreira.

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“Guardo imensas recordações de aqui vir com a minha avó, ver cinema e depois ir beber chá. Entre os anos 60 e 70, terei vindo cá algumas centenas de vezes”, disse Rui Moreira, na visita ao Batalha. © Nuno Nogueira Santos / CMP

A notícia de que a Câmara ia reabilitar o Batalha foi adiantada pelo Público na quinta-feira e refere que dificilmente as portas se abrirão aos espectadores antes de 2018. O projeto, que foi entregue ao arquiteto Alexandre Alves Costa, ainda não está feito, pelo que o presidente considera que seria “irresponsável” pronunciar-se já sobre quais serão os custos das obras.

O contrato de arrendamento prevê que o edifício seja utilizado para “a instalação de um cinema municipal e para a promoção de um projeto cultural”, diz Rui Moreira. A autarquia vai pagar 10 mil euros por mês aos proprietários — a sociedade Neves & Pascaud –, um valor conseguido após uma “difícil” negociação. O objetivo era adquirir o edifício, mas a família não quer vender. O contrato é válido por 25 anos e é “renovável”, o que permite “investir e amortizar o investimento feito”, sublinhou Rui Moreira.

O novo Cinema deverá manter o formato de duas salas para cinema. A sala principal tem uma lotação de 889 lugares, distribuídos por plateia, tribuna e balcão. No piso inferior, a Sala Bebé tem uma lotação de 135 lugares. O objetivo passa por ter também espaços expositivos e de pesquisa.

Não demoraria que o nosso Batalha desaparecesse da cidade e da memória dos portuenses“, disse o vereador socialista Manuel Correia Fernandes, lembrando que “não foram poucas as chamadas de atenção” que o PS fez durante o Executivo liderado por Rui Rio. Sem sucesso. “As razões [para não intervir] eram que se tratava de um privado e que o cinema não tem rentabilidade em salas daquele tipo.”