Os cientistas descobriram que as pessoas com intolerância ao som de outras pessoas a comerem mostram uma atividade cerebral distinta sempre que têm contacto com esses sons que as irritam. Esta é a primeira resposta para a compreensão da misofonia, uma condição identificada em 2000, mas com apenas dois estudos publicados em 13 anos: os misófonos sentem repulsa e desconforto quando ouvem determinados sons, como o de teclas, de papel a rasgar ou outros com que lidamos no quotidiano. E a culpa está no cérebro.

Até há pouco tempo os investigadores julgavam que este comportamento era sintoma de algum tipo de transtorno obsessivo-compulsivo. Agora, novos dados sugerem que esta pode ser uma condição com uma explicação neurológica: os scans feitos às pessoas com misofonia evidenciaram um aumento da atividade no córtex insular anterior, uma parte do cérebro responsável por determinar quais as coisas a que devemos prestar atenção acrescida. Mais do que isso, os cientistas observaram que havia um aumento da conexão dessa área a outras zonas cerebrais, principalmente nas ligadas à regulação emocional e da memória.

Análises feitas ao cérebro das pessoas com misofonia também mostraram uma diferença em relação ao cérebro das pessoas sem este problema: no córtex prefrontal ventromedial, a bainha gordurosa que circunda as células nervosas e os ajuda a transmitir informações de uns para os outros também é maior, o que pode explicar uma maior conectividade entre os neurónios. Estes resultados sugerem que os sistemas que influenciam aquilo a que prestamos atenção e respondemos emocionalmente está alterada nas pessoas incomodadas com determinados sons.

Mas atenção: este estudo, publicado na Current Biology, não pode ser conclusivo: a amostra utilizada no estudo é demasiado baixa — foram analisadas 20 pessoas incomodadas com certos sons e 22 pessoas sem esse problema — e para tirar conclusões é necessário o estudo de um maior número de casos.

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