José Miguel Júdice não poupa elogios e críticas aos vários elementos da política portuguesa, tanto da esquerda como da direita. Numa entrevista ao jornal i, o antigo dirigente do PSD afirma que António Costa é “mais adequado” para o momento político atual do que Pedro Passos Coelho, considerando que o antigo primeiro-ministro já “está morto politicamente”.

“Passos Coelho está morto politicamente, só que ainda ninguém lhe disse. (…) Não estou a dizer que ele não possa ressuscitar, mas acho que está politicamente morto”, diz o advogado.

Júdice defende que Costa e Marcelo Rebelo de Sousa são “os mais dotados das suas gerações”. Ainda assim, não deixa de apontar o dedo ao Presidente da República, sublinhando que alguns dos seus erros têm sido “a verborreia” — “quem fala sobre tudo não fala de nada” — e o seu excessivo entusiasmo com António Costa. “António Costa fez com Marcelo Rebelo de Sousa um bloco central. Compensou a sua fragilidade e a sua dependência dos partidos de extrema-esquerda”

Garante também que Rebelo de Sousa preparou-se “desde sempre” para ocupar um cargo político importante — “se ele acabasse a sua vida tendo sido apenas presidente do PSD e ministro da Presidência de Balsemão, teria falhado uma parte substancial da sua vida” –, descrevendo-o como alguém “maquiavélico de forma instrumental”, “manipulador”, “capaz de jogar com as pessoas” e de dizer mal delas quando “não estão presentes”.

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“Ele está a pensar na História. Quer ser o Presidente da República que toda a gente venha a considerar o melhor da democracia”, acrescenta.

Políticos “magros e gordos” vs políticos “pessimistas e otimistas”

José Miguel Júdice considera ainda que “não se pode fazer política a dizer a verdade” e isso não é algo exclusivo de Portugal. “Os políticos mentem-nos permanentemente, mas nós queremos que eles nos mintam. Nós nunca votaremos em políticos que nos digam a verdade. (…) Quem é que ganha eleições a dizer que vai aumentar os impostos e criar desemprego?”

E faz ainda um paralelismo entre políticos “gordos e magros” e “pessimistas e otimistas”: “Eu tenho uma teoria que, como todas as teorias, é exagerada. Faço a distinção entre magros e gordos. Os gordinhos são mais otimistas. O António Costa é gordinho, o Soares era gordo… Salazar era magro, o Cavaco é magrinho, o Passos é magro, é uma linhagem de pessimistas. Quando alguém está bem com a vida, come melhor”.

Marques Mendes: “Boneco do ventríloquo” ou “personagem com autonomia”?

Marques Mendes também foi um dos visados nas críticas de Júdice. Para além de referir que não se percebe se o antigo líder do PSD “é o boneco do ventríloquo” de Marcelo Rebelo de Sousa — já que Mendes é “uma das quatro pessoas que o prof. Marcelo Rebelo de Sousa mais ouve e, ao mesmo tempo, tem um programa de televisão” — ou “se é uma personagem com autonomia”.

O advogado revela ainda o papel do atual comentador na sua saída do PSD. O antigo bastonário da Ordem dos Advogados explica que, depois de se ter filiado no partido em homenagem a Sá Carneiro, um ano depois da sua morte, Júdice diz ter ficado “chocado” e “triste” por nunca ter sido convidado para as várias homenagens que houve a Sá Carneiro.

Sublinha, contudo, que “a gota de água” foi a reação de Marques Mendes: “Ele [Marques Mendes], perante o facto de eu estar um pouco magoado, fez uma coisa extraordinária e disse-me: “O programa ainda não está fechado e, se você quiser, eu ponho-o já a ser responsável por qualquer coisa”. Eu disse-lhe: “Ó Marques Mendes, você não está a perceber nada. (…) Estou apenas a registar que deixei de vos interessar””, contou o advogado, acrescentando ter sido convidado cerca de dois anos mais tarde para fazer parte das listas de Marques Mendes e de Luís Filipe Menezes.

“Os partidos só se interessam pelas pessoas que podem ameaçar ou pedir”, acrescenta.

Já no fim da entrevista, José Miguel Júdice diz não se considerar “uma pessoa poderosa”. “Isso dá-me vontade de rir. Acho que sou uma pessoa incómoda. As pessoas que me contactam, agora que tenho um programa de televisão [na TVI24], dizem-me que digo coisas que ninguém tem coragem de dizer. Isto não é ser poderoso”. Termina garantindo que nunca teve ambições políticas.

“Nunca tive vontade de fazer política. É um mundo do qual não gosto. Gosto da política, mas não gosto de estar dentro da política. É um mundo no qual me sentiria mal”.