O Model X, o SUV do construtor americano de veículos eléctricos, é conhecido por ser isso mesmo – eléctrico –, mas também por ser extremamente veloz e célere nas acelerações. Contudo, o seu aspecto mais marcante são mesmo as portas traseiras, que o fabricante denomina “portas de falcão”, por abrirem para cima, tipo asas de pássaro. Pois desta vez, o que está mesmo no centro da polémica são as portas, que não terão aberto após um acidente, seguido de incêndio.

Segundo uma carta publicada a 22 de Abril no WeChat do Cartek (que pode consultar aqui, se o seu chinês estiver desenferrujado), a cidadã chinesa Lee Tada deslocava-se a bordo do seu Model X, instalada no assento posterior juntamente com o seu namorado. Ao volante estava o motorista que, a dada altura, perdeu o controlo do veículo e despistou-se, embatendo primeiro no rail de protecção lateral, para depois ficar virado para trás e ser embatido de frente por um Ford Focus, que circulava no mesmo sentido.

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Satisfeitos por terem sobrevivido ao duplo embate, a jovem Tada e o seu acompanhante tentaram sair do veículo através das tais portas de falcão. E foi aqui que começaram os problemas, pois ambas não respondiam ao botão de accionamento eléctrico. Ao aborrecimento de não conseguir abandonar o veículo de forma convencional, seguiu-se o pânico, quando verificaram que tinha deflagrado um incêndio, o que os levou a ter de sair pela porta da frente.

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O ataque de Lee Tada

A proprietária chinesa afirma que circulava a apenas 75 km/h e que o acidente em que se viu envolvida – em Fevereiro, na província de Guangzhou – lhe deixou vários ferimentos, do nariz partido a um corte no lábio, que necessitou de 12 pontos. Pior ficou o motorista, que acusou diversas fracturas e ferimentos internos, tendo ficado hospitalizado mais de um mês.

Mas a jovem Tada reclama que, mais do que os danos físicos, são os mentais que a atormentam, pois diz ter pesadelos constantes, em que morre carbonizada dentro de um Tesla. É este argumento que esgrime para exigir uma indemnização de 8 milhões de yuan, cerca de 1 milhão de euros.

A defesa da Tesla

O construtor americano, com bastante prática neste tipo de polémicas, emitiu um comunicado em que se congratula por todos os intervenientes no acidente não estarem em perigo de vida, e em que afirma estar a trabalhar com as autoridades locais, no sentido de averiguar as causas do sinistro.

Mas aproveita para salientar que, numa primeira análise e apenas pela posição dos destroços e projecção de peças, bem como dos danos em ambos os veículos, tudo indica que o embate tenha ocorrido a alta velocidade. E lembra que, nestas condições, qualquer veículo pode incendiar-se, sendo que isso é mais provável que ocorra em modelos equipados com motores a gasolina.

Seguindo uma política de total transparência, a Tesla termina garantindo que tornará público todos os detalhes da investigação já iniciada, a começar pelo facto de os queixosos terem apresentado o avultado pedido de indemnização.

Onde é que isto vai parar?

Para início de conversa, é fundamental permitir que as autoridades chinesas terminem o seu trabalho e divulguem as conclusões. Dito isto, como todos os Tesla estão constantemente em contacto com a fábrica, nos EUA, o construtor sabe exactamente a que velocidade seguia o veículo e o que aconteceu nos instantes que antecederam o acidente.

Analisando os danos reportados por Lee Tada, relativos a ela e ao motorista, todos são consistentes com a não utilização do cinto de segurança e não com queimaduras, ferimentos ou inalação de fumos, relativos ao incêndio. Também é evidente que a estrutura do veículo suportou correctamente as deformações do embate, a ponto de permitir que os ocupantes saíssem pelas portas da frente, que obviamente abriam, mesmo depois de um embate frontal. Veja como funcionam as portas de falcão, pela mão de Elon Musk:

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Já as portas de falcão traseiras, ou de abertura tipo asas de gaivota, como são habitualmente denominadas, deveriam ser passíveis de abrir a partir do interior, isto se não houver deformação da carroçaria que as prenda, como parece ter sido o caso. Se o botão de accionamento eléctrico, que comanda as portas posteriores, deixou de funcionar, deveria existir uma solução alternativa e mecânica, que funcione mesmo quando a corrente é interrompida – até por uma questão de segurança, em caso de acidente. E a verdade é que existe mesmo.

Segundo a Tesla, no manual do proprietário vem de forma explícita a informação de como abrir as portas traseiras, quando o sistema eléctrico deixa de funcionar. O acesso é simples e está escondido atrás da tampa do altifalante da porta. Basta depois puxar o cabo.