Theresa May está “totalmente iludida” quanto ao que pode exigir dos parceiros europeus e Jean Claude Juncker está “10 vezes mais cético” em relação ao sucesso das negociações do Brexit. Este é o resumo de uma reunião com temperaturas árticas que aconteceu em Downing Street na passada quarta-feira e que o jornal alemão Frankfurter Allgemeiner Sonntagszeitung — descreve quase ipsis verbis, isto apesar de o governo britânico já ter vindo negar a versão do jornal.

Citando pessoas “informadas” pelo próprio Juncker, o jornal dá conta de uma reunião onde as expectativas de Theresa May, primeira-ministra britânica, e aquelas da própria União, representada na pessoa do Presidente da Comissão, estiveram sempre desalinhadas. Juncker terá dito que “é mais provável que [as negociações] falhem do que não falhem”, e acusado Theresa May de estar “iludida”. Numa conversa telefónica com a Chanceler alemã Angela Merkel, afirma o jornal, Juncker terá mesmo confessado estar “10 vezes mais cético do que antes” quanto ao potencial de sucesso das negociações para o Brexit.

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Frases alegadamente proferidas depois de Theresa May ter dito, segundo o relato do Sonntagszeitung, que o Reino Unido “não está legalmente obrigado a pagar qualquer quantia à União Europeia”. Em resposta, Juncker terá dito que “o Reino Unido não pode simplesmente cancelar o contrato com a Europa como se se tratasse de uma inscrição num clube de golfe”. O valor da fatura que o Reino Unido terá que pagar não é consensual mas é certo que David Cameron, antigo primeiro-ministro, assinou, em 2013, o programa europeu que prevê que se sejam entregues aos estados-membros cerca de 990 mil milhões de euros. Entre subsídios à agricultura, apoios a programas de revitalização urbana e ao desenvolvimento científico e académico, a Europa deverá exigir que o Reino Unido retribua a diferença entre o que pagou para o “bolo” e o que já gastou.

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O governo britânico já veio negar que o jantar tenha sido o desastre que a imprensa relata. Em resposta à agência Bloomberg, um porta-voz de Theresa May, que preferiu não ser citado, disse que “o governo não reconhece esta versão dos factos” e completou: “tal como a primeira-ministra e o próprio Jean-Claude Juncker disseram, de forma clara, esta reunião foi construtiva e as negociações estão oficialmente em marcha”. A própria Theresa May reforçou esta segunda-feira a mesma posição.

Numa ação de campanha para as legislativas de 8 de junho, em Lancashire, May “pediu” às pessoas que ouvissem não o jornal alemão mas o que os intervenientes do jantar disseram assim que a reunião acabou. “A conversa foi construtiva mas também ficou claro que estas negociações, de tempos a tempos, serão duras: para garantir que conseguimos o melhor acordo possível para o Reino Unido temos que demonstrar uma liderança forte e estável”, disse Theresa May que classificou as fugas de informação como “mexericos de Bruxelas”.

Se um desmentido de facto chegar, então o jornal conseguiu contar uma história cheia de detalhes sumarentos, para utilizar a tradução literal do juicy inglês. Segundo o Sonntagszeitung, Juncker terá ligado a Angela Merkel já depois do fim do jantar para a “avisar” de que a Europa estava a lidar com “alguém que vive em outra galáxia”. Quem? Theresa May. Quando a primeira-ministra expressou a vontade de assinar um acordo em relação aos limites à imigração até junho, Juncker terá alegadamente sacado da sua mochila duas pilhas de papel — um detalhando o processo de entrada da Croácia na União Europeia (2013) e, outro, sobre o acordo comercial com o Canadá, que demorou dez anos a ser aprovado.

May terá também insistido que todas as negociações sejam feitas em segredo e terá ficado “muito surpreendida” quando Juncker a informou de que relatórios periódicos teriam que ser enviados a todos os parlamentos dos outros 27 países da União Europeia. E todas estas arestas que faltam limar podem limitar o acesso do Reino Unido a um acordo comercial proveitoso, o que, terá dito Juncker “deixaria o Reino Unido “com um estatuto parecido com a da Turquia”.