Pagador de promessas há 15 anos, Carlos Gil publicita na internet o negócio que o leva a Fátima para pagar promessas alheias a troco de 2.500 euros por peregrinação.
A ideia “surgiu de repente”, sem que ele próprio saiba explicar porquê, e resume-se em poucas palavras numa página na internet: “Se tem uma promessa para cumprir e não o pode fazer, ou simplesmente quer a agradecer a Nossa Senhora de Fátima as boas graças recebidas ao longo da vida, Carlos Gil caminha por si até Fátima”.
Assim começava, há 15 anos, um negócio como “Pagador de Promessas”, que leva Carlos Gil “duas a três vezes por ano” ao Santuário de Fátima para pagar promessas alheias, em troca de um pagamento devidamente tabelado.
Uma peregrinação da grande Lisboa ao Santuário de Fátima custa 2500 euros, rezar um terço 250 euros, por uma vela 25 euros.
Noutros serviços, como peregrinações no estrangeiro, o preço “é visto caso a caso”, num negócio que começa normalmente por “um telefonema, a pessoa diz o que quer, faz a transferência bancária e eu inicio o serviço”, contou à Lusa.
De Luanda a Muxima (Angola) ou a Trilha Inca até Machu Picchu (Peru) são algumas das peregrinações que já leva fora do país, num ano em que tem também prevista, em outubro, uma caminhada de mais de 200 quilómetros entre S. Paulo e a Nossa Senhora da Aparecida, no Brasil. Estas, com tarifa mais elevada.
Agente imobiliário de profissão, Carlos Gil assegura ganhar “mais a vender casas”, mas não esconde já ter ganho “muito dinheiro” com o “nobre serviço de peregrinar a pedido de outras pessoas”.
“Não tenho quase custos nenhuns”, admitiu, reconhecendo que no caminho que percorre encontra quem considere “receber um peregrino em casa quase um ato de misericórdia”, fazendo com que, muitas vezes, dos 250 euros que leva na viagem, a maior parte regresse a casa no final da promessa paga.
Mas custe o que custar a peregrinação, não há descontos para a clientela “normalmente abastada e com poder de compra”, a quem Carlos Gil quer fazer sentir na carteira o sacrifício que a promessa feita deveria implicar.
“Quem paga tem que ter consciência do serviço que está a pedir e para ele tem que valer a pena”, explica, considerando esse pagamento elevado “o seu sacro-ofício, o sacrifício”.
Se o que o move é a fé ou o dinheiro, diz nem ele saber, reconhecendo que o serviço é “rentável” e tem no dinheiro “um dos focos”, embora tenha, por outro lado, “muito a ver com um outro lado invisível”, mais voltado para a espiritualidade.
Por isso, deixou de querer saber “as razões das pessoas” que lhe pedem para peregrinar para evitar “entrar em julgamentos sobre se a peregrinação vale ou não a pena”.
Numa era em que muitas das promessas que cumpre têm a ver com negócios e questões materiais, admite que há quem discorde do facto de “o serviço envolver dinheiro”, chegando as críticas pela mesma via que os contratos: a internet.
“Pessoalmente sempre fui bem tratado e bem recebido, mesmo sabendo as pessoas o que estou a fazer. Onde há mais agressividade é na internet, nos comentários de pessoas que não me conhecem e despejam ali toda a sua dor e sofrimento”.
Mas nada que desmotive Carlos Gil, que aos 54 anos continua determinado a cumprir as promessas dos outros enquanto as pernas aguentarem.