Uma noite de sábado num dos mais conhecidos mercados de Londres, jovens casais com mesa marcada num dos incontáveis restaurantes à volta do centro financeiro, bares a trazerem de novo para os passeios as pequenas esplanadas que guardaram no inverno, porque junho já chegou.

Os alvos dos ataques terroristas parecem não ser já grandes edifícios, símbolos do capitalismo e do Ocidente, mas sim pessoas. Na linha da frente da resposta a estes ataques, além dos serviços de emergência e da polícia — que só precisou de oito minutos para abater os terroristas –, estão aqueles que não cederam ao medo e, assim, se tornaram heróis.

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É o caso de uma mulher que utilizou o seu próprio corpo para impedir que os terroristas entrassem num restaurante. Uma história que se tornou conhecida pelo testemunho de um taxista de Londres, Aksha Patel, que contou como uma mulher, que transportou no seu carro, usou o corpo como barricada para impedir um terrorista de entrar no restaurante Black and Blue, perto do Mercado de Borough. Segundo o taxista, a ação da mulher terá permitido que mais de 20 pessoas escapassem pelas traseiras.

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“Transportei dois passageiros. Aparentemente tinham saído do restaurante Black and Blue. Eles descreveram-me a maneira como impediram os tipos de entrarem no restaurante. A mulher terá criado uma barreira aos terroristas, durante ‘alguns segundos’, possibilitando a quem estava dentro do restaurante que escapasse pelas traseiras, antes de os terroristas entrarem”, disse Patel.

Um outro taxista, Chris, identificado apenas pelo primeiro nome numa entrevista à rádio LBC, tentou atropelar os terroristas quando reparou que eles estariam a esfaquear pessoas perto da zona onde tinha acabado de recolher um cliente. “Pensei assim: ‘Vou tentar atingi-lo com o carro, vou tentar que fique imobilizado'”, contou o taxista. “Voltei o táxi ao contrário, fiz uma inversão de marcha e quando estava mesmo quase a bater num ele desviou-se e logo depois reparei que vinham três polícias a correr na direção dos atacantes”. Depois disso, Chris levou algumas raparigas assustadas para “um lugar o mais longe possível dali”.

Tentou atrair os terroristas para salvar rapariga

Também Gerard Vowls, que estava no bar The Ship a ver a final da Liga dos Campeões, contou à Sky News que tentou salvar pessoas, da forma que lhe foi possível. Vowls disse que ouviu os atacantes gritar “Isto é por Alá!” momentos antes de começarem a atacar uma rapariga. “Foi horrível, senti-me muito perdido, estou triste por aquela rapariga, pelo que lhe fizeram, gostava de ter feito mais por ela”.

Vowls está a ser tratado como um herói nas redes sociais por ter corrido ao encontro dos atacantes para os distrair e fazer com que deixassem de esfaquear a rapariga. “Um dos terroristas veio atrás de mim e quase tropecei. Se eu tivesse caído, nesta altura estava morto porque eles ter-me-iam esfaqueado e nesta altura estaria estendido ali no chão, com 50 golpes de faca”, relatou Vowls, cuja intenção seria atrair os terroristas para a rua principal “onde a polícia já estava”.

Gerard Vowls foi também elogiado por ter atirado “garrafas, copos grandes de cerveja, cadeiras e tudo o que estivesse à mão” para fazer com que os atacantes deixassem a rapariga em paz. “Chorei durante uma hora, não sabia o que estava a fazer, estava noutro planeta”, disse ainda.

O polícia e o dono de um restaurante

O primeiro polícia a tentar intercetar os atacantes também já recebeu elogios do chefe da Polícia de Transportes de Londres, Paul Crowther. O agente, que não estava em serviço, debateu-se com os três homens armados com facas utilizando apenas o seu cassetete. Está internado em estado grave. Paul Crowther afirmou que ele demonstrou “imensa coragem”, principalmente para um agente “que apenas se juntou à equipa há menos de dois anos.

Outra história de heroísmo: Mark Stembridge, proprietário do Café Brood, um restaurante localizado em Borough Market, conseguiu, juntamente com os seus funcionários, manter os 130 clientes que estariam no local protegidos das investidas dos atacantes que estavam a esfaquear pessoas.

Stembridge disse que, se não fossem os seus funcionários, três dos quais com treino militar, originalmente da Albânia, “as coisas podiam ter sido muito piores”. “Vimos três homens armados a dirigirem-se ao restaurante e alguns dos meus funcionários, com treino militar, trouxeram rapidamente para dentro do restaurante as pessoas que estavam na varanda. Os atacantes estavam a gritar, mas acho que ficaram na dúvida entre atacar ou não o nosso restaurante porque viram que estávamos organizados”, disse o dono do Café Brood ao Huffington Post, que aproveitou para pedir algum apoio das autoridades no treino de mais funcionários da área de hotelaria que têm estado na linha da frente destes “novos” ataques a zonas turísticas.

Templos e casas

E depois há as pequenas coisas que também fazem a diferença em noites como esta. Phaldip Singh, por exemplo, que colocou na rede social Twitter um mapa dos templos Sikh que estavam abertos e dispostos a receber, e a alimentar, os que que foram afetados pelo ataque. O pessoal do supermercado Sainsbury’s estavam também na manhã de domingo a oferecer comida aos polícias que permaneciam de vigia.

Outras pessoas recorreram às redes sociais para oferecer abrigo a quem não estivesse a conseguir ir para casa, tal como já tinha acontecido em Manchester, quando um homem se fez explodir no fim de um concerto da norte-americana Ariana Grande. Mary Lynch, foi uma das pessoas a oferecer a sua casa, a um jovem de 22 anos, George Moss, que ficou sem telefone durante a confusão e não conseguiu contactar nenhum amigo para pedir ajuda. “Sem eles tinha sido muito complicado, não teria onde dormir. Ter alguém na área disposto a ajudar imediatamente faz uma diferença enorme nestas alturas”. Já a anfitriã disse que “gostaria de saber que as pessoas abririam as suas casas” caso fosse apanhada numa situação idêntica.