Fique cinco ou dez anos, Marcelo já tem um “retrato oficial” para a Galeria dos Presidentes quando terminar o mandato. Foi um mestre “assim assim”, um desconhecido do Porto, que o pintou. António Bessa inspirou-se em duas fotografias, onde Marcelo aparecia pensativo, e alterou-lhe o sorriso por considerar que retratava mais o “Presidente do povo”. O Observador falou com o autor das fotografias que inspiraram o quadro. Orlando Almeida, fotógrafo da agência Globalimagens, diz que está “contente” por o pintor “ter encontrado naquela foto as características que reconhece no Marcelo“.
Marcelo Rebelo de Sousa foi fotografado durante uma entrevista concedida ao Diário de Notícias a 29 de julho de 2015, quando ainda não se assumia como candidato à Presidência da República. “Ele não assumia, mas já toda a gente sabia que seria”, conta Orlando Almeida. Foi naquele momento que está a origem da origem daquele que pode ser o retrato oficial de Marcelo. O fotógrafo vê que “até o reflexo e a luz” no quadro é igual à fotografia, mas afirma que a pintura “é boa e o mérito é todo do pintor”. Orlando Almeida reconhece que não conhecia o pintor: “É desconhecido? Então somos dois artistas desconhecidos“.
Orlando Almeida diz que “até à cabeça o quadro podia ser uma representação da fotografia”, mas na foto o “Presidente não está sorrir”. Isso já foi uma interpretação do pintor. António Bessa explica que representou o “presidente dos afetos” de frente “para o povo” e “com as pessoas a apreciar ao passar na rua”. E confirma que usou duas fotografias para se inspirar. Preferiu, segundo descreveu à Lusa, o “presidente sorridente ao invés do presidente com ar pensativo” e à medida que executava a obra, as pessoas interagiam consigo exatamente dando-lhe abraços.
O chefe de Estado visitou esta sexta-feira a galeria de António Bessa, no Porto no meio de uma agenda “muito atrapalhada”, como descreveu à Lusa o pintor que recebeu Marcelo Rebelo de Sousa cerca das 13h30 depois deste ter “disparado rua acima” alertado por “uma senhora que passava por ele e lhe contou que um mestre assim assim tinha um retrato dele na montra”.
“Ele chegou com os seguranças todos atrás, entrou com a Guarda Civil e a assessoria toda, surpreendeu-se com o quadro e surpreendeu-me a mim. Disse-me que gostava que este fosse o seu retrato oficial e perguntou aos assessores como podia levá-lo. Eu sugeri ‘oh presidente se quiser eu levo-lho a casa’. E ele convidou-me a ir a Lisboa. ‘Traga-mo até ao final do mês’. Eu fiquei sem fala: ‘oh meu Presidente, isso é uma maravilha. Fica combinado’, disse-lhe”.
Fonte da Presidência da República explica ao Observador que “não é garantido que este seja, no final do mandato, o retrato oficial“, sendo “apenas uma possibilidade“. Por regra, perto do final do mandato os presidentes pedem a um pintor que os retrate. O retrato oficial de Jorge Sampaio, por exemplo, é da artista Paula Rego.
Voltando à obra de António Bessa, esta tem 1 metro e 40 centímetros de altura por um metro de largura. No centro de uma tela pintada a óleo que demorou cerca de dois meses a executar, está Marcelo Rebelo de Sousa sentado numa escada “exatamente como ele é, informal e com ar sorridente”, descreveu António Bessa. Por baixo, num quadro de lousa, lê-se “Marcelo R. Sousa – Presidente de um povo é ser povo”. Em frente, um enorme de vidro faz a ponte entre a galeria/ateliê do mestre António Bessa e uma das ruas mais movimentadas do coração da cidade do Porto.
É no número 314 da rua do Almada que “mora” o quadro que Marcelo Rebelo de Sousa, que está de visita a Porto para presidir às comemorações do 10 de Junho, pondera escolher para o representar no fim do mandato, colocando-o na galeria de retratos do Museu da Presidência da República.
António Bessa, 63 anos, pintor “desde que se conhece por gente”, decidiu pintar Marcelo Rebelo de Sousa quando há um ano se cruzou com o chefe de Estado num jardim da Foz do Porto e este lhe deu um abraço. “Ele agora queria comprar-me o quadro mas eu prometi retrata-lo porque senti aquele abraço como um abraço vindo do povo. Este presidente é um fenómeno”, descreveu o pintor que, questionado sobre quais as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa ao visitar a galeria, contou ter ouvido do Presidente da República a frase: “Este quadro é de todos os quadros que me pintaram, o mais fiel”.
O desejo de estar visível e de interagir com o público já o fez pintar um olho na caixa de correio de um dos seus ateliês antigos, convidando quem passava a espreitar o seu trabalho que inclui retratos de quatro outros presidentes, o da câmara do Porto, Rui Moreira, de Guilherme Pinto, o presidente da câmara de Matosinhos que morreu este ano, do presidente da Câmara de Arouca, José Artur Neves, e do presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa.
Estes são retratos que fazem parte da sua mais recente exposição “Quatro presidentes e três cidades” que junta aos quatro “quadros presidenciais”, telas sobre três cidades — o Porto do seu coração, Matosinhos, onde reside, e Arouca de onde é a sua esposa — num total de 16 obras.