Um incêndio que esteve a consumir um edifício de 24 andares em Londres, na zona oeste de North Kensington, durante mais de 24 horas, causou, pelo menos, 17 mortos, confirmou, esta quinta-feira, a polícia londrina, reconhecendo que o número deverá voltar a ser revisto em alta. Durante a tarde, havia 35 pessoas internadas, 16 das quais em estado grave, de acordo com Nick Hurd, secretário de Estado da Polícia e dos Bombeiros, e Alok Sharma, responsável pela habitação, que deram uma curta conferência de imprensa no Palácio de Westminster. Stuart Cundy, da polícia londrina, revelou que os feridos graves já foram identificados.

De acordo com os governantes, citados pelo The Guardian, o fogo já foi dado como controlado. Stuart Cundy, contudo, alertou para o facto de ainda estarem a deflagrar pequenos fogos no interior da torre. Nick Hurd disse esperar que os responsáveis pela gestão dos prédios assegurassem a segurança dos edifícios.

As causas do incêndio ainda são desconhecidas, mas especialistas citados pela imprensa britânica acreditam que a rápida propagação das chamas se deveu ao revestimento exterior do edifício, colocado em 2016. De acordo com o The Guardian, este revestimento foi também responsável por um incêndio em Melbourne, na Austrália, há três anos, que consumiu um prédio de 13 andares em pouco mais de 11 minutos. Investigações posteriores revelaram que o revestimento estava “diretamente ligado” à propagação do fogo.

Grenfell Tower fica em North Kensington

Testemunhas no local contaram contaram aos órgãos de comunicação britânicos que tudo terá começado com uma fuga de gás num apartamento do quarto andar. Contudo, o comandante da polícia Stuart Cundy disse, durante a manhã desta quinta-feira, em conferência de imprensa, que ainda é muito cedo para tirar essas conclusões, afastando, para já, ligações a qualquer ato terrorista. O presidente da Câmara de Londres, Sadiq Khan, disse que não se deve “especular “sobre a causa do incêndio” e exigiu esclarecimentos.

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A comissária dos bombeiros de Londres admitiu que este é um incidente “sem precedentes” — em 29 anos de serviço “nunca, nunca” viu um incêndio destas proporções. As autoridades confirmaram, também, que foram transportadas 68 pessoas para hospitais na zona, 18 delas em estado crítico. Testemunhas disseram às televisões e jornais britânicos que foram vistas pessoas a atirarem-se das janelas, de andares elevados. Há dez pessoas que foram voluntariamente para o hospital.

Especialistas da Kings College, em Londres, que têm estado a monitorizar a nuvem de fumo formada pelo incêndio, afastaram a possibilidade de vir a haver um pico de poluição na cidade. O fumo foi levantado no ar pelo calor das chamas, espalhando-se depois sobre uma grande área, refere o The Guardian.

Seis vítimas identificadas “provisoriamente”

A comissária dos bombeiros, Dany Cotton, disse, durante a manhã desta quinta-feira, que há ainda um “número desconhecido” de pessoas nas ruínas da Grenfell Tower e que iam ser enviados cães pisteiros. As buscas podem demorar semanas e não há esperança de encontrar mais sobreviventes.

O Comandante Stuart Cundy, da polícia metropolitana, anunciou que foram identificadas seis das 17 vítimas. Contudo, “existe o risco de, infelizmente, não conseguirmos identificar toda a gente”, citou o The Guardian. Não se sabe se entre elas está o jovem Mohammed Alhajali, cuja morte foi confirmada por amigos e familiares a vários órgãos de comunicação britânicos.

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Durante a tarde de quinta-feira, Stuart Cundy frisou ainda que a “recuperação das vítimas do interior do edifício representa um grande desafio”. Contudo, esta é a principal prioridade das autoridades. “É importante ser sincero: há fogos ainda a deflagrar e as condições são muito difíceis para os serviços de emergência nos níveis superiores do edifício. Só podemos recuperar os corpos quando for seguro fazê-lo e isso irá demorar tempo“, afirmou o Comandante, explicando que todo o processo, no qual estão a participar os Bombeiros de Londres, pode levar dias ou semanas.

Peter Vanezis, especialista forense, esclareceu à Sky News que a identificação das vítimas pode demorar “algumas semanas ou até meses”, dependendo do estado dos restos mortais. Além disso, segundo Peter Vanezis, “irá demorar algum tempo até todas as vítimas serem localizadas devido à dificuldade dos bombeiros em trabalharem num edifício que não é seguro e que obriga a uma busca meticulosa”.

Portuguesa grávida de sete meses perdeu o bebé

Entre os portugueses que viviam no edifício, há duas crianças com “prognóstico reservado”, confirmou o secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, na quarta-feira. As duas meninas portuguesas internadas, de 11 e 13 anos, estão fora de perigo, embora continuem em observação médica, disse entretanto à Agência Lusa fonte da Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas. A mãe das crianças, de 38 anos, está fora de perigo, mas, de acordo com a RTP, estava grávida de sete meses e terá perdido o bebé.

Numa nota enviada à Agência Lusa esta quinta-feira, a Presidência da República refere que Marcelo Rebelo de Sousa “falou esta manhã com a mãe das crianças portuguesas feridas no incêndio que ainda estão internadas, para se inteirar do seu estado de saúde e desejar as rápidas melhoras”.

“Segundo a mãe, as crianças estão livres de perigo e apresentam sinais de melhoras significativas”, adianta a Presidência da República na mesma nota.

Esta era a terceira família portuguesa residente no prédio e que faltava ainda localizar, esclareceu a mesma fonte. Além destas famílias, viviam ainda mais dois portugueses, informou a cônsul-geral de Portugal na capital britânica. Joana Gaspar adiantou à Agência Lusa que os restantes portugueses já foram contactados pelo consulado e que estão bem, embora tenham perdido as suas casas. O cônsul-geral adjunto está no hospital a acompanhar a situação das duas meninas e a cônsul-geral está em contacto com municípios e outras entidades para, em caso de necessidade, serem realojados.

A aflição dos portugueses que perderam tudo em Londres: “Fiquei com a roupa que tinha no corpo”

Lino Miguel, presidente do Centro Comunitário Português, que está a prestar apoio aos portugueses afetados pelo incêndio, disse à SIC Notícias que sabe que estes “estão alojados e que não tem problemas com o alojamento e alimentação”. “Estamos a centralizar os nossos esforços em termos de roupa e artigos de higiene. Quando conseguirmos falar com eles, vamos saber o que é que precisam mais”, disse Lino Miguel, adiantando ainda que o consulado português tem recebido vários donativos.

O Secretário de Estado, José Luís Carneiro, alertou, contudo, que é preciso muita “cautela” com as informações porque se trata de um prédio com 600 habitantes e é difícil ter a certeza de que não haveria mais portugueses no edifício.

Theresa May ordena abertura de inquérito. Rainha elogia trabalho dos bombeiros e voluntários

A primeira-ministra Theresa May ordenou a abertura de um inquérito público para apurar as causas do incêndio de quarta-feira. “Precisamos de assegurar que esta tragédia é profundamente investigada”, afirmou, citada pelo The Guardian. “As pessoas merecem respostas. O inquérito vai fornecê-las.”

May, que visitou o local durante a manhã desta quinta-feira, já tinha prometido uma profunda investigação ao que aconteceu. “Se houver lições a aprender com o que aconteceu, serão aprendidas”, afirmou durante a visita. A primeira-ministra não se quis encontrar com os moradores, o que lhe valeu fortes críticas nas redes sociais. Questionada sobre o assunto, Theresa May disse que a visita teve como principal objetivo falar com os serviços de emergência, que têm “trabalhado incansavelmente sob condições terríveis”. “Fiquei impressionada com o seu profissionalismo e bravura”, acrescentou.

Na quarta-feira, em comunicado já tinha dito que estava “profundamente triste com a tragédia das vidas que se perderam” na Grenfell Tower. “Os meus pensamentos estão com todos os afetados [pelo incêndio] e com os serviços de emergência”, afirmou.

Theresa May visitou o local durante a manhã desta quinta-feira (ANDY RAIN/EPA)

O líder dos trabalhistas, Jeremy Corbyn, também visitou a Grenfell Tower esta quinta-feira, garantindo que a “verdade virá ao de cima”, cita a BBC. Corbyn encontrou-se com voluntários e líderes comunitários e visitou a igreja de St. Clements, onde foi instalado um centro de apoio aos desalojados. Num curto comunicado emitido pouco tempo depois, o líder trabalhista disse que se sentia “muito irritado” com a forma como o fogo se propagou. “Sinto-me muito irritado que tantas vidas se tenham perdido porque o sistema não funciona. Os residentes que conheci hoje também estão irritados. As perguntas que fizeram sobre o edifício não foram respondidas”, acrescentou.

A Rainha Isabel II emitiu, durante a manhã desta quinta-feira, uma mensagem de condolências: “Os meus pensamentos e orações estão com as famílias que perderam os seus entes queridos no incêndio da Grenfell Tower e com aqueles que ainda estão internados no hospital em estado crítico”, refere o comunicado, no qual elogiou o trabalho dos bombeiros e dos “outros serviços de emergência que puseram a vida em risco para salvar os outros”. “É também comovente ver a incrível generosidade dos voluntários que estão a reunir esforços para ajudar aqueles que foram afetados por este terrível evento.”

O ministro da Saúde britânico, Jeremy Hunt, agradeceu os esforços “heroicos” dos serviços de emergência e o trabalho da equipa dos hospitais do Serviço Nacional de Saúde britânico, que está a ser “incansável”.

Presidente da Câmara de Londres quer respostas “ainda neste verão”

O presidente da câmara de Londres, Sadiq Khan, começou por dizer esta quinta-feira à tarde que “os bombeiros e as equipas de investigação estão a trabalhar no prédio” enquanto fala à imprensa. Disse ainda que demorará “vários dias e semanas” para que seja feita a investigação a todo o edifício.

Sadiq Khan — que enfrentou alguns moradores indignados (uma criança às cavalitas do pai perguntou-lhe: “O que pensa agora fazer quanto a isto” — considera “compreensível” a contestação já que “os moradores estão muito irritados e preocupados e têm questões que exigem respostas”.

O presidente da Câmara de Londres congratula-se com o facto da primeira-ministra ter pedido um inquérito independente porque “são precisas de respostas agora.” E faz um apelo: “Exorto o juiz que conduzir o inquérito a ter uma resposta ainda neste verão. Não podemos esperar anos”.

Sadiq Khan diz que deve haver respostas sobre o incidente o “mais depressa possível” e revelou que pediu ao Governo que faça uma vistoria em “todos os blocos de prédios do país e não apenas naquelas que acabaram de ser recentemente remodelados.

Moradores já tinham pedido um consultor independente para avaliar a segurança do edifício

A Grenfell Tower fica na zona de North Kensington. Foi construída nos anos 70, é um edifício de gestão pública e sofreu obras de renovação que foram concluídas no ano passado. As obras, que custaram 10 milhões de libras (mais de 11 milhões de euros), incluíram um novo revestimento da fachada e um novo sistema de aquecimento comum.

Durante as obras, um grupo chamado Grenfell Action Group alertou, recorda a BBC, para o risco elevado de incêndio naquele edifício e para a dificuldade de acesso de viaturas de emergência. Os moradores do prédio, preocupados com a segurança do prédio, pediram que as condições de segurança fossem revistas por um consultor independente, mas esse pedido foi rejeitado, explicou Judith Blackman, porta-voz do Partido Trabalhista que pertence ao conselho de administração do Kensington and Chelsea Tenant Management Organisation (KCTMO), organização que gere as casas do concelho.

Judith explicou que os moradores já tinham manifestado as suas preocupações junto da KCTMO e que as levou à administração várias vezes. A sua insistência foi tal que o conselho tentou retirá-la do cargo que tinha, reafirmando que não era preciso nenhum consultor independente para reavaliar a situação em que se encontrava o prédio. “Fui tratada como se fosse um estorvo. Fiz 19 queixas em nome dos residentes, mas o conselho de administração dizia sempre que a segurança do prédio estava bem”, relatou Julia Blackman, citada pelo The Guardian.

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Nick Paget-Brown, autarca de Kensington & Chelsea, admitiu também, em conferência de imprensa, que tinha sido contactado pelos moradores por causa do estado do edifício, mas que era precipitado afirmar que as queixas estão relacionadas com o incêndio. “É preciso ver com maior profundidade se estas queixas correspondem à causa que fez deflagrar o incêndio de hoje”, afirmou.

A KCTMO divulgou um comunicado confirmando de que tinham conhecimento das queixas dos residentes e que estas serão tidas em conta durante as investigações. “É muito cedo para especular qual foi a causa do incêndio e o que contribuiu para a sua propagação. Vamos cooperar com as autoridades, a fim de determinar a causa da tragédia”, pode ler-se ainda no comunicado.

O líder da organização responsável pela gestão da torre disse à ITV que estava “devastado” com as declarações que davam conta de que o revestimento do prédio podia ter contribuído para a velocidade e intensidade com que as chamas se propagaram. “Não esperávamos nada que isto acontecesse, estamos absolutamente devastados”, afirmou. Ao canal de televisão britânico, Robert Black acrescentou que não tem mais nenhuma informação sobre o incidente e que, por isso, era “realmente difícil” comentar o caso “nesta fase.

“Temos de trabalhar com a investigação e descobrir o que aconteceu. Tudo o que fizemos está de acordo com as regras de construção estabelecidas”, acrescentou.

O que se sabe sobre este incidente, até ao momento

  • O incêndio deflagrou pouco antes da uma da manhã na Grenfell Tower, que fica na Latimer Road (zona de North Kensington, oeste de Londres).
  • Cerca de duzentos bombeiros estão desde essa hora a combater o aparatoso incêndio, que ainda não está controlado apesar de já ter consumido quase todo o edifício. Além dos bombeiros, as autoridades dizem que 40 carros de bombeiros e 20 ambulâncias estão envolvidos na operação.
  • Há, pelo menos, 17 mortos, um número que deverá subir nas próximas horas, afirmou a Polícia local esta quinta-feira.
  • Dany Cotton, comissária dos bombeiros de Londres, afirmou que este é um incidente “sem precedentes”. “Em 29 anos de serviço, nunca, nunca vi algo assim”, lamentou a chefe dos bombeiros.
  • 64 foram levadas para hospitais na zona (uma primeira informação falava em 30 pessoas). Várias pessoas estão a ser tratadas por inalação de fumo.
  • Entre esses feridos estão vários portugueses. O caso que inspira mais cuidados é o de duas meninas, irmãs, que estão com prognóstico reservado, informou José Luís Carneiro, secretário de Estado das Comunidades. Os pais estão fora de perigo e, também, estão bem os dois jovens que viviam num apartamento e a família de quatro pessoas que vivia num outro. A mãe das crianças, de 38, está fora de perigo, mas estava grávida de sete meses e perdeu o bebé.
  • “Os bombeiros, que estão a usar equipamentos de respiração, estão a trabalhar de forma extremamente árdua, em condições muito difíceis, para combater este incêndio. Este é um incidente muito grave”, tinha afirmado Dan Daly, comissário-adjunto da London Fire Brigade, esta madrugada.
  • Não é conhecida, para já, a origem do incêndio, que terá começado nos andares inferiores mas rapidamente chegou até ao topo do edifício. As chamas ainda não estão controladas. As autoridades disseram que “irá levar algum tempo até que se determinem as causas do incêndio”. Sadiq Khan, mayor de Londres, “naturalmente haverá muita especulação mas neste momento não queremos especular sobre a origem do incêndio.
  • Existe o receio de que a estrutura do edifício esteja em risco de colapsar. Para já, porém, a estrutura do edifício parece estar sólida o suficiente para os bombeiros circularem lá dentro à procura de pessoas, segundo a avaliação de um engenheiro de estruturas que está no local a monitorizar a estabilidade do prédio. Esta foi a informação avançada por Dany Cotton, chefe dos bombeiros, que fez uma segunda declaração pelas 9h40.
  • Há 120 casas no edifício. “Várias centenas” de pessoas moram ali, afirmou Nick Paget-Brown, autarca de Kensington & Chelsea, mas não se sabe quantas estariam ali naquele momento porque estamos na altura do Ramadão e muitos residentes são muçulmanos. Segundo o The Telegraph, cerca de 600 pessoas vivem ali.
  • Várias testemunhas viram pessoas a pedirem ajuda, nos andares superiores. A certa altura, houve pessoas a ligarem e desligarem luzes como forma de pedido de socorro. Um correspondente da BBC disse que as autoridades falam num “número significativo de pessoas” de quem nada de sabe — não estão entre aqueles que conseguiram sair nas primeiras horas mas acredita-se que estavam no prédio no momento em que o incêndio deflagrou.
  • Testemunhas ouvidas pela Sky News disseram, também, que houve pessoas a atirarem-se das janelas, em andares elevados. Outros moradores terão usado lençóis para tentar descer do edifício.
  • Nas últimas horas, as redes sociais estão a servir para tentar encontrar pessoas que estão desaparecidas, incluindo algumas que se perderam da família no momento da evacuação.
  • O presidente da câmara de Londres enfrentou moradores revoltados, congratulou-se com o inquérito pedido pela primeira-ministra e apela ao juiz que conduzir o processo para ter uma resposta “já este verão”.
  • De acordo com a Sky News, acredita-se que pelo menos 41 pessoas estejam desaparecidas.