O número de pessoas que foram forçadas a abandonar as suas casas devido à guerra, violência ou perseguição atingiu um valor recorde em 2016, com 65,6 milhões de deslocados internos ou refugiados, revelou a ONU esta segunda-feira.

“O número global de 65,6 milhões reflete um ligeiro aumento face aos 65,3 milhões” de 2015, declarou o alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, na apresentação do relatório anual daquela agência da ONU.

Este número indica que, em média, uma em cada 113 pessoas em todo o mundo, ou mais do que a população do Reino Unido, vive atualmente deslocada. Dois terços são deslocados internos, ou seja, no seu próprio país (40,3 milhões contra 40,8 milhões em 2015), sendo que a Síria, Iraque e Colômbia representam os principais focos de deslocamentos internos.

Com 22,5 milhões – dos quais mais de metade crianças -, o número de refugiados registados no ano passado figurou, em contrapartida, como o mais elevado de sempre. Já o número de requerentes de asilo ascendeu a 2,8 milhões.

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O conflito na Síria, que começou em 2011, continua a gerar o maior número de refugiados (5,5 milhões no total), com perto de 825.000 novos registos em 2016, indica o relatório do ACNUR, divulgado na véspera do Dia Mundial do Refugiado, que manifesta particular preocupação com o panorama no Sudão do Sul.

Segundo o ACNUR, verifica-se uma rápida deterioração da situação no Sudão do Sul, “depois do catastrófico fracasso dos esforços de paz em julho”. A crise de deslocamentos forçados no Sudão do Sul é a que “conhece o crescimento mais rápido no mundo”, alertou Filippo Grandi.

Independente desde 2011, o Sudão do Sul mergulhou, em dezembro de 2013, numa guerra civil que fez dezenas de milhares de mortos e obrigou mais de 3,4 milhões de pessoas a fugirem das suas casas.

Segundo o ACNUR, “os números incluídos no relatório até ao final do ano passado é de 1,4 milhões de refugiados e dois milhões de deslocados internos, mas só durante o primeiro semestre deste ano mais 500 mil pessoas tornaram-se refugiadas, alertou o mesmo responsável.

Em contrapartida, durante o ano passado, 500 mil refugiados e 6,5 milhões de deslocados internos conseguiram voltar às suas casas – apesar de muitas vezes em condições extremamente precárias – e outros 189.300 refugiados foram acolhidos ao abrigo de programas em 37 países. No entanto, no ano passado, 10,3 milhões de pessoas viram-se forçadas, pela primeira vez, a abandonar as suas casas, dos quais 6,9 milhões ficaram dentro das fronteiras do seu próprio país.

Ao somar e subtrair os novos deslocamentos forçados pelos regressos e reassentamentos retira-se, segundo o ACNUR, uma “boa notícia”: a de que o número total de deslocamentos forçados no final de 2016 foi de “apenas” mais 300 mil pessoas, quando nos cinco anos anteriores o aumento foi na ordem dos milhões.

“Contudo, não quero que ninguém tenha uma falsa impressão de estabilidade. Não há nada de estável nestes números ainda que o total seja muito parecido com o de 2015, porque 10 milhões de novos deslocamentos falam de uma situação dinâmica e perigosa, porque muitos deles foram forçados a mudarem-se pela primeira vez”, afirmou o alto-comissário.

A Síria continua a ser o país com mais deslocados do mundo, com 12 milhões, ou seja, quase dois terços da sua população. Sem ter em conta os refugiados palestinianos (5,3 milhões) deslocados há décadas, o segundo país com maior população refugiada é o Afeganistão (4,7 milhões), seguindo-se o Iraque (4,2 milhões) e o Sudão do Sul (3,3 milhões).

O relatório do ACNUR observa ainda que 84% dos refugiados no mundo vive em países de rendimentos baixos ou médios e que um em cada três (4,9 milhões) é acolhido por países menos desenvolvidos.

Há que reconhecer o enorme esforço que estes países fazem. E há que recordar isso quando os países industrializados se opõem a receber dezenas ou centenas de refugiados, quando são os países mais pobres aqueles que acolhem centenas de milhares deles.”

O relatório mostra que 75.000 crianças não acompanhadas por adultos pediram asilo em países terceiros, mas o ACNUR acredita que o número de menores emigrantes ou deslocados forçados é muito mais elevado. O ACNUR refere ainda que existem em todo o mundo 10 milhões de pessoas que não têm qualquer nacionalidade ou que se encontram em risco de se tornarem apátridas.