A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, apelou este domingo para que se parasse de doar alimentos na sequência do incêndio no concelho de Pedrógão Grande, mas continua a chegar ajuda a vários quartéis, que estão ainda a acolher bens alimentares e vestuário.

Contactada pelo Observador, fonte do Ministério da Administração Interna (MAI) confirmou ao Observador que não existe nenhuma “entidade” nem nenhuma “figura” a coordenar esta entrega e recolha de bens para as zonas mais afetadas pelo fogo. Assim, cada quartel organiza-se da melhor forma que pode e muitos continuam a aceitar bens.

É o caso do Largo do Barão de Quintela, em Lisboa. Hugo Simões, adjunto do quartel, diz compreender o pedido da ministra e explica ao Observador que efetivamente os bombeiros no local do incêndio não têm capacidade para organizar aquilo que lhes é enviado e ainda combater o fogo, mas isso não acontece com quartéis perto do local do incêndio.

É por isso que, na tarde desta segunda-feira, um camião TIR, cedido pela empresa Expresso Frigo, carregado de alimentos, sai deste quartel em direção ao centro logístico dos bombeiros de Pombal, passando antes pelos quartéis de Campo de Ourique e do Beato para recolher mais bens. Serão depois os bombeiros de Pombal que irão fazer a distribuição pelo concelho de Pedrógão.

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Hugo Simões refere ainda que os bens mais necessários neste momento são água e meias de algodão para os bombeiros.

Os Bombeiros Voluntários de Oeiras também continuam a fazer recolhas de alimentos. “Não recebemos nenhuma indicação em contrário”, esclarece fonte destes bombeiros ao Observador, acrescentando que continuam a aceitar “calçado, roupa, bolachas, sumos, cereais, etc”. A mesma fonte adianta que, no domingo, foi enviado um carro para o concelho de Pedrógão Grande, mas ainda não há indicação de quando será efetuado um novo transporte. “É uma questão de logística e quando houver uma quantidade grande, leva-se”, afirma fonte dos Bombeiros Voluntários de Oeiras.

O comandante dos Bombeiros Voluntários de Lisboa, Paulo Vitorino, sublinha que agora o essencial é “material de serviço de saúde” como soro fisiológico, ligaduras, pomadas para pequenas queimaduras, entre outros bens. Bens alimentares neste momento não são tão essenciais, mas continuam a aceitá-los.

“Há que ter alguma calma. Ainda hoje despachámos 25 toneladas de alimentos e água. Ainda temos 10 toneladas de comida enlatada. Continuamos a receber, mas o nível de escoamento vai demorar muito mais”, refere Paulo Vitorino.

Ainda assim, o comandante ressalva a importância de serem alimentos não perecíveis. “Há produtos perecíveis que quando chegam ao local já dão problemas”. Paulo Vitorino refere que o tipo de alimentação ideal nesta situação são comidas que se consomem rapidamente e que não “criem lixo”.

Já os Bombeiros Voluntários de Leiria, que ainda no domingo fizeram um apelo para a recolha de bens para os desalojados pelo fogo, já não estão a aceitar bens alimentares. O comandante Luís Lopes explica ao Observador que lançaram um apelo à população, via redes sociais e email, para não entregarem mais bens alimentares, uma vez que já não são necessários para as zonas mais afetadas pelo incêndio.

“Vamos fazer chegar às populações os bens alimentares que foram entregues ontem. Aqueles que já tenham comprado bens alimentares podem vir entregar ao quartel, mas a gestão será feita de outra forma porque já não se justifica enviar para Pedrógão Grande, Castanheira de Pera e Figueiró dos Vinhos. Vamo-nos coordenar com a Segurança Social e entregar os bens alimentares perecíveis a lares e instituições da região que mais precisem”, explicou o comandante ao Observador.

Luís Lopes acrescentou ainda que seguiu na tarde desta segunda-feira, para as regiões mais afetadas pelo incêndio, um camião com roupa de cama e produtos de higiene. Bens que ainda estavam em falta na região.

Presidente da Liga dos Bombeiros pede para população não entregar alimentos

A ação dos bombeiros de Leiria vem no seguimento do apelo do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses para a população deixar de entregar alimentos. “Os stocks estão cheios em Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera”, afirmou Jaime Marta Soares ao Observador.

Marta Soares reforçou que os quartéis não deviam estar a aceitar bens alimentares, sublinhando que “não se justifica a entrega [de bens alimentares] a quartéis, a não ser quando seja solicitado”. “Se estivermos com falta de recursos, eu próprio farei um comunicado”, acrescentou.