A região de Newfoundland and Labrador, no nordeste do Canadá, pode conter as provas de vida terrestre mais antigas de que há registo numa formação rochosa com quase 4 mil milhões de anos, indicando que a Terra, que se formou há 4538 milhões de anos, pode ter contido vida numa fase em que ainda atravessava a “infância” enquanto planeta. A descoberta foi feita por dois investigadores japoneses da Universidade de Tokyo e publicada na edição desta semana da revista Nature.
As possíveis provas encontram-se em Saglek Block, no norte da província geológica de Nain, em rochas sedimentares com 3950 milhões de anos onde se encontram composições de grafite biogénico, ou seja, produzido por seres vivos, com isótopos de carbono, isto é, variantes do elemento químico. A mistura de ambos os elementos sugere que o local já era habitado por micróbios que desenvolviam as suas células através do dióxido de carbono presente no ar.
Saglek Block
O local onde estão as provas mais antigas de vida na terra encontram-se aqui, no nordeste canadiano.
A química é importante para compreender a descoberta dos investigadores japoneses. O carbono tem dois isótopos estáveis: carbono-12 e carbono-13. O primeiro é bastante comum, o segundo mais raro e mais “pesado” (contém mais massa isotópica). O carbono-12, por ser mais reativo, é mais fácil de transformar em moléculas essenciais à vida, pelo que os organismos vivos as concentram nas suas células. Após a morte das células os indícios da presença de carbono-12 no seu organismo permanecem. Aquilo com que os investigadores japoneses se deparam na formação rochosa de Saglek Block foi grafite enriquecido com carbono-12, o que significa que havia vida no local aquando da formação daquele grafite, há 3950 milhões de anos.
A descoberta não apresenta, contudo, marcadores biológicos claros de que houve vida naquele local, naquela altura. Em declarações ao El Mundo, Jesús Martínez-Frías, chefe do grupo de Investigação de Meteoritos e Geociências Planetárias do Conselho Superior de Investigações Ciêntificas, explica que marcadores geológicos “evidenciam a possibilidade de uma origem biológica” mas não dão “indicadores inequívocos da presença de vida”. Os marcadores biológicos, por contrário, estão relacionados “inequivocamente com a atividade metabólica de um organismo”.
Alguns investigadores levantam a possibilidade de, dada a idade das rochas, ser possível que o grafite se tenha formado mais tarde. Para além disso, existem processos que podem alterar as proporções de carbono-12 e carbono-13. Os autores do estudo, no entanto, afirmam que têm feito todos os possíveis para confirmar que o grafite está lá desde o início. Para um dos autores, Tsuyoshi Komiya, a grande dúvida é saber quando ao certo surgiram as primeiras formas de vida na Terra, dizendo ao El Mundo que “para isso é preciso demonstrar que a vida não existia antes dessa data”.