Catalães apoiantes do referendo de autodeterminação proibido que os dirigentes separatistas querem realizar no domingo começaram esta tarde a ocupar escolas que funcionarão como assembleias de voto, para garantir que a consulta popular acontecerá.

A agência noticiosa francesa AFP constatou a ocupação de pelo menos duas escolas no centro de Barcelona, enquanto uma “plataforma das escolas abertas para o referendo” publicava na rede social Twitter imagens de várias ocupações.

“Eu vou ficar a dormir aqui, em princípio com o meu filho mais velho, que é cá aluno”, disse Gisela Losa, mãe de três crianças, numa escola primária do bairro de Gracia, no centro da capital da Catalunha.

“Temos pelo menos quatro ou cinco famílias que virão com os seus filhos e, sem dúvida, mais gente: amanhã, teremos de certeza mais”, acrescentou.

Espanha vive desde o início de setembro a sua pior crise política em quase 40 anos, na opinião dos seus dirigentes: a 06 de setembro, o parlamento catalão aprovou uma lei para realizar o referendo apesar da sua proibição (pelo Tribunal Constitucional espanhol), argumentando que os independentistas desde 2012 reclamam a sua realização.

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A maioria dos habitantes desta região do nordeste de Espanha – que representa 20% do Produto Interno Bruto (PIB) – quer um referendo legal, apesar de estarem muito divididos quanto à independência.

O Governo do primeiro-ministro conservador Mariano Rajoy e a Justiça estão decididos a impedir que a consulta popular se realize, tendo ordenado às forças policiais que bloqueiem o acesso dos catalães às assembleias de voto.

Indiferentes às ameaças e às sanções já decretadas, os dirigentes separatistas da Catalunha vão em frente: hoje, anunciaram dispor de cerca de 2.300 assembleias de voto e apresentaram o modelo de urna que será utilizado, enquanto todas as polícias de Espanha procuram precisamente essas urnas.

“Penso que privar-nos de votar é um atentado à liberdade democrática. Considero muito grave que se ameace evacuar pela força os estabelecimentos de ensino”, frisou Gisela Losa.

Mais ao menos ao mesmo tempo, cerca de 30 pessoas fecharam-se dentro de outra escola.

Os apoiantes do referendo conseguiram iludir a vigilância da polícia regional e ficaram no interior do edifício quando a diretora da escola fechou os portões, constatou um fotojornalista da AFP.

“Nada justifica que se possa violar um direito tão básico como o direito de voto”, explicou, por trás do gradeamento, um dos apoiantes da consulta popular, Omar Sanchis, um estudante de teatro, de 29 anos.

O movimento de ocupação parece ser em parte coordenado por uma “plataforma de escolas abertas para o referendo”, que distribui instruções pelas redes sociais, em especial por mensagens de Telegram, por ser mais confidencial.

Está, por exemplo, a distribuir um manual com instruções aos pais de alunos ou defensores do referendo que queiram ocupar locais de voto.

“O objetivo desta campanha é garantir que todas as assembleias de voto previstas para o referendo de 01 de outubro reúnam as condições para que possamos todos pronunciar-nos livre e pacificamente”, lê-se numa das mensagens.