Não havia nenhum estudante da Universidade de Cambridge que não soubesse como encontrar William Hopkins. O nome soava por toda a Inglaterra: era matemático, geólogo e tinha sido laureado pela medalha Wollaston. Mas o verdadeiro motivo que conduzia os estudantes universitários até Hopkins era o título que tinha ganho em Cambridge: “O fabricante de wranglers”. Em 22 anos, Hopkins foi o explicador de 17 senior wranglers, 27 segundos e terceiros senior wranglers e mais de 200 wranglers, as categorias mais altas que um estudante podia conquistar em Cambridge. Mas para lá chegarem era preciso enfrentarem crises nervosas, colapsos físicos e até derrames cerebrais.

Conforme explica o professor de matemática espanhol Raúl Ibáñez Torres ao ABC, todos os candidatos a ganhar um canudo com o carimbo de Cambridge tinham de participar num debate oral em latim perante um representante da universidade. Em 1725, as regras mudaram: os estudantes já não tinham de fazer o debate em latim, mas sim em inglês. Em contrapartida deveriam passar seis dias em janeiro, durante seis horas por dia, a preencher um dificílimo exame de matemática. Era o Tripos, um exame obrigatório em Cambridge que hoje, tendo outros contornos, não dá mais do que um bacharelato. À época, no entanto, passá-lo dava direito a manchete nos melhores jornais do Reino Unido. E a ter todas as portas escancaradas no mercado de trabalho.

Mas alcançar regalias destas não era tarefa fácil. George G. Stokes, físico e matemático, escrevia em 1850 que apenas 38% dos estudantes alcançava uma das três categorias mais altas de Cambridge: wranglers, senior optimes e junior optimes. Uma boa parte, cerca de 45%, conseguia apenas um nível ordinário que garantia a passagem. Mas 17% dos alunos examinados desistia do teste, que era realizado na Casa do Senado. Mas as percentagens não espelham a dificuldade do exame: era tão complicado que, em média, os melhores alunos não conseguiam mais do que 0,28 numa escala de 0 a 20 (a utilizada na atualidade em Portugal no Ensino Superior). A nota mais alta alguma vez conseguida foi 8,98 em 20.

Por detrás destas notas, as mais honrosas de Cambridge, estava um mundo de sofrimentos. Francis Galton, que chegou a ser antropólogo, meteorologista, matemático e estatístico, sofreu uma crise nervosa tão grande que bloqueou durante o exame e apenas conseguiu uma “nota ordinária”, sem grau de honra em Cambridge. Charles A. Bristed, o primeiro autor a escrever um estudo completo sobre variações linguísticas da língua inglesa nativas dos Estados Unidos, sofreu um colapso físico que o atirou para os últimos lugares do grau junior optimes. O economista Henry Fawcett, que toda a gente julgava que ia ser o senior wrangler no seu ano, sofreu um transtorno nervoso e insónias. James Wilson, que foi senior wrangler em 1859, quando recuperou da crise nervosa que teve depois do exame, não se lembrava de nenhum conceito matemático que tinha estudado. E James Savage, que foi senior wrangler, foi encontrado morto três meses depois do exame com um derrame cerebral. Outros génios viram os seus nomes chegarem longe com um simples grau ordinário neste exame. É o caso de Thomas Macaulay ou de Charles Darwin.

Este exame de matemática era apresentado a todos os estudantes porque, no século XVIII e XIX julgava-se que a matemática era um conhecimento obrigatório, independentemente da área que se estudasse, porque ginasticava o cérebro. O sistema foi readaptado em em 1850, quando se criaram outros Tripos — de ciências naturais, de ciências morais e outras — que eram apresentados a estudantes dessa área. Atualmente, há 28 Tripos da Universidade de Cambridge. Todos são obrigatórios para obter uma graduação na instituição.

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