A CNN denunciou vendas de escravos na Líbia, depois de receber um vídeo onde se vêem vários homens a serem leiloados. As autoridades locais prometeram investigar a situação.
O canal de notícias norte-americano disse ter passado vários meses a tentar verificar a autenticidade das imagens. Um dos homens, um nigeriano, surge de camisa branca e está a ser vendido como “um dos rapazes fortes para trabalho agrícola”. “900… 1.000… 1.100 …”, ouve-se no vídeo. Um dos homens acaba por ser vendido por 1.200 dinares líbios — 75 euros. O homem que está a fazer a venda não aparece no vídeo de pouca qualidade — apenas se vê a sua mão, em cima do ombro do escravo.
A CNN decidiu depois enviar uma equipa, no final do mês passado, ao país para investigar o caso. Já na Líbia, o contacto local levou-os até um leilão numa localidade a cerca de 30 minutos de Tripoli, explicando que estes ocorrem entre uma a duas vezes por mês em diversas cidades.
“Alguém quer um cavador? Este é um cavador, um homem grande forte, ele cava”, diz o vendedor. Aos poucos, vão aumentando as ofertas: “500, 550, 600, 650, 700…”. Em poucos minutos, o homem é vendido e entregue ao novo “dono”. O leilão em questão não durou mais de seis a sete minutos e, nesse espaço de tempo, foram leiloados 12 homens, a quem se referem como “mercadoria”.
"What am I bid?" Undercover footage of a slave auction in Libya, where smugglers sold migrants for as little as $400 https://t.co/2jkqH3uZJZ pic.twitter.com/pvSSxAlcTD
— CNN International (@cnni) November 14, 2017
A maioria destes homens são migrantes, que fugiram dos seus países devido aos conflitos e à pobreza. Chegam até à Líbia na esperança de atravessarem o Mediterrâneo e chegarem à Europa. Com o aumento da fiscalização por parte da guarda costeira, porém, há cada vez menos embarcações a aventurarem-se pelo mar, levando a que haja cada vez mais pessoas retidas em terra. Isso levou os contrabandistas a começarem a vender estes eventuais passageiros.
“Levem-nos para casa”, pede Victory, uma das muitas pessoas no centro de detenção em Tripoli à espera de ser reenviado para casa. Depois de chegar ao país, ficou retido numa casa, juntamente com outros migrantes, onde passou fome e foi maltratado. Quando ficou sem dinheiro, os contrabandistas venderam-no como escravo.
“A pessoa que me comprou deu-lhes dinheiro e depois levaram-me para casa”, explica Victory à CNN. Os contrabandistas disseram-lhe que o valor que ganhariam pela venda serviria para reduzir a sua dívida e passou várias semanas a fazer trabalho forçado. Pouco depois, foi devolvido aos contrabandistas, tendo sido revendido novamente. Situação que se repetiu por diversas vezes.
“Se olharem para a maioria de nós, se virem os nossos corpos, veem as marcas”, afirmou Victory, referindo que, durante esse tempo, os contrabandistas ainda exigiram um resgate à sua família.
O responsável pelo centro de detenção assumiu que já ouviu rumores de vendas de escravos, mas nunca assistiu a nada. “Não acontece à nossa frente, não há provas”, afirmou. Também o tenente Naser Hazam, da Agência Anti-Imigração Ilegal, disse à CNN nunca ter assistido a um leilão de escravos, mas confirmou que existem gangues que fazem contrabando de pessoas no país.
“Alguns relatos são verdadeiramente terríveis e os mais recentes relatos de ‘mercados de escravos’ para migrantes podem-se acrescentar à longa lista de horrores”, referiu, num comunicado, Mohammed Abdiker, diretor de operações da Organização Internacional para a Migração.
De acordo com a mesma organização, a violência da viagem pelo norte de África levou mais de 8.800 migrantes a optarem por regressar a casa.