Anna Muzychuk, xadrezista ucraniana por duas vezes campeã do mundo, recusou participar no mundial feminino de xadrez que começa esta terça-feira na Arábia Saudita. “Não quero jogar pelas regras de outros, não quero usar abaya [veste árabe obrigatória para as mulheres], não quero ter de andar acompanhada para sair e, no geral, não me quero sentir uma criatura secundária”.
Numa publicação na sua página de Facebook, Anna Muzychuk escreveu que o faz para ser coerente com os seus valores. “Estou preparada para me erguer pelos meus princípios e não ir a um evento onde em cinco dias deveria ganhar mais do que ganho numa dezena de eventos juntos”, afirmou Muzychuk. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é que quase ninguém se preocupa”, acrescentou.
A organização do campeonato abriu este ano uma exceção para permitir que as mulheres pudessem jogar sem o hijab, o véu islâmico para tapar a cabeça, mas manteve a obrigação de utilizar um traje que cubra todo o corpo da mulher.
Em fevereiro deste ano, a campeã norte-americana Nazi Paikidze recusou participar no mundial feminino no Irão, devido à obrigatoriedade de utilizar véu na cabeça. Nessa competição, Anna Muzychuk participou e aceitou utilizar o véu, algo que considerou “mais do que suficiente”.
'I am ready to stand for my principles': Double world #chess champion #AnnaMuzychuk says she won't defend titles in Saudi Arabia because of kingdom's inequality. #humanrights https://t.co/zPkzqDNv0N pic.twitter.com/dqyl887ymb
— ISHR International Solidarity for Human Rights (@ISHRIGHTS) December 26, 2017
Numa publicação na sua página pessoal em novembro, em que Muzychuk anunciou que não participaria nesta competição, a atleta questionou: “Primeiro o Irão, depois a Arábia Saudita. Pergunto-me onde será que o próximo campeonato do mundo feminino será organizado. Apesar do prémio recorde, não fui jogar em Riade, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Arriscar a minha vida, usar abaya o tempo todo? Tudo tem o seu limite e os véus no Irão foram mais do que suficientes”, escreveu.