Cerca de 20 lesados do Banco Espírito Santo (BES) voltaram esta quinta-feira a manifestar-se na Avenida dos Aliados, no Porto, para exigir o pagamento da totalidade do dinheiro através da provisão criada para reembolsar clientes. “Temos uma provisão no Novo Banco [NB], no valor de 1.837 milhões de euros que é a nossa garantia financeira, exigida pelo Banco de Portugal na época. Portanto, continuamos à espera da provisão que está a engordar o Novo Banco”, disse Jorge Novo.

De acordo com o grupo presente na manifestação, “essa provisão é dos lesados” exigindo, por isso, o pagamento integral: “100% mais juros”. Prometem “não sair da rua” enquanto não alcançarem os objetivos e ponderam organizar um protesto junto à sede do PS, em Lisboa, para recordar as palavras do líder parlamentar do partido, proferidas em março de 2015.

O líder parlamentar do PS, Carlos César, disse no dia 24 de março de 2015 que se fosse Governo iria reembolsar a totalidade das poupanças a todos os lesados sem exceção. Continuamos à espera”, afirmou Jorge Novo.

Também António Silva lembrou que “o PS já é Governo há dois anos, sem cumprir a promessa de pagar na íntegra e não em percentagem”. Os lesados dizem olhar “com muita desconfiança” para as soluções que têm vindo a ser apresentadas.

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Colocamos o dinheiro no BES, as contas passaram para o Novo Banco, é o Novo Banco que tem de pôr o dinheiro nas nossas contas, porque foi para isso que ficou com a provisão. É simplesmente isso”, sustentou António Silva.

Os lesados recordam que “o Banco de Portugal determinou expressamente ao BES a criação de uma conta ‘Escrow’ [destinada a reeembolsar quem comprou papel comercial], este é um momento chave que dispensou os clientes de irem levantar o capital e garantia o reembolso dos clientes. Os clientes de retalho tinham essa carta de conforto”.

O NB trabalha há mais de três anos com o dinheiro que nos pertence, contra a nossa vontade, e tem responsabilidades nas vidas destruídas, nas mortes que estão a ocorrer devido a esta vigarice, e nos danos morais que incompreensivelmente ao apoderar-se da provisão destinada a ressarcir os clientes de retalho têm sujeitado as vítimas desse roubo”, sublinham, apelando ao “bom senso” do Governo, do Banco de Portugal (BdP) e dos responsáveis do Novo Banco.

Na passada quinta-feira, o Governo confirmou que a primeira parte da indemnização aos lesados do papel comercial do BES vai ser assegurada diretamente com dinheiro do Estado, de cerca de 140 milhões de euros, prevendo-se que aqueles clientes recebam estas compensações em abril.

O Governo propôs alterar parte do desenho da solução para os clientes do antigo BES com papel comercial do Grupo Espírito Santo (GES): em vez de prestar uma garantia estatal ao fundo de recuperação de crédito para este se financiar junto da banca de modo e poder pagar aos lesados, como tinha sido inicialmente negociado, o Estado prepara-se para emprestar diretamente dinheiro ao fundo.

O BES, tal como era conhecido, acabou a 3 de agosto de 2014, quatro dias depois de apresentar um prejuízo semestral histórico de 3,6 mil milhões de euros.

O Banco de Portugal, através de uma medida de resolução, tomou conta da instituição fundada pela família Espírito Santo e anunciou a sua separação, ficando os ativos e passivos de qualidade num ‘banco bom’, denominado Novo Banco, e os passivos e ativos tóxicos no BES, o ‘banco mau’ (‘bad bank’), sem licença bancária.