O acesso à praia do Creiro (mais conhecida como Portinho da Arrábida) abateu durante a noite de quarta-feira na sequência do temporal que se fez sentir. A situação é descrita pelo presidente do Clube da Arrábida, Pedro Soares Vieira, que ao Observador diz tratar-se de “um muro de proteção que também funciona como caminho de acesso à praia”.
O acesso, continua, separa o mar das casas (essencialmente de veraneio) e a parte atingida pela tempestade desta noite inviabiliza o acesso ao Restaurante Farol, assegura o presidente. “Além de o muro ter abatido, ficaram à mostra as condutas elétricas e as condutas da água”.
Ao Observador, José Luís Bucho, coordenador do Serviço Municipal de Proteção Civil e Bombeiros (SMPCB), confirma que o mar levou parte do caminho no Portinho da Arrábida e assegura que as condutas de abastecimento de água e de energia elétrica que ficaram parcialmente expostas “não constituem uma situação de perigo”. “Vamos colocar sacos com areia para impedir que o mar cause mais destruição. Depois do mau tempo, seguramente que a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tomarão conta da ocorrência.”
Ao Observador, a APA esclarece que, tendo em conta a “zona colocada a descoberto por ação do mar”, vai proceder “à avaliação técnica da situação com vista ao seu enquadramento financeiro e concretização”, logo que esteja ultrapassado o episódio de forte agitação marítima.
Em maio de 2017, a Câmara Municipal de Setúbal passou a gerir as praias da Arrábida graças a protocolos de gestão celebrados com a Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra e com a Agência Portuguesa do Ambiente, acordos esses que passaram a possibilitar investimentos municipais de mais 3,6 milhões de euros com vista à “melhoria das zonas balneares”.
A gestão das praias, tendo em conta a responsabilidade da autarquia, é do ponto de vista balnear, explica fonte oficial da CM de Setúbal. “O protocolo assinado com a Agência Portuguesa de Ambiente para a delegação de competências na autarquia sadina da gestão das praias do Portinho, Creiro, Galapinhos, Galapos e Figueirinha incide em matérias relacionadas com apoios de praia e equipamentos”, lê-se em nota de imprensa.
Não obstante, Pedro Soares Vieira, presidente do Clube da Arrábida, fala numa situação “fruto de um abandono profundo” e associa-o ao “profundo desassoreamento” no Portinho da Arrábida. “Ao longo dos últimos 50 anos, o Portinho teve um desassoreamento brutal em que se perderam perto de 1.000 metros de comprimento de costa”, diz ao Observador. “Ou seja, a areia desapareceu. Ao não haver areia na praia deixa de existir proteção natural. A areia tem a função de amortecer a força do mar.”
Em fevereiro de 2010 aconteceu uma situação idêntica no Portinho da Arrábida, quando a proteção “do caminho de emergência que dá acesso às praias” abateu devido a um temporal. À data foram precisos nove meses para ser feita a reparação do caminho em questão, assegura Pedro Soares Vieira.
Em 2011, o Clube da Arrábida realizou um colóquio sobre o tema “que juntou os maiores especialistas em erosão costeira”, cujos resultados foram posteriormente publicados num livro apoiado pela Câmara Municipal de Setúbal, Parque Natural da Arrábida e Ministério do Ambiente. Na altura, “apontava-se a necessidade de um estudo de impacto urgente para mitigar os problemas de erosão costeira”.
No verão de 2017 foi divulgado um estudo elaborado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG) que recomendava um plano de intervenção devido ao “estado de degradação” no Portinho da Arrábida. De acordo com o estudo, citado pelo jornal Público, o areal do Portinho diminuiu “de forma acentuada” nos últimos 100 anos, “reduzindo substancialmente” a qualidade balnear.
Artigo atualizado às 17h46