“Processos judiciais?!” Nem a vaia dos militantes que assistiam à conferência de imprensa na hora da derrota eleitoral, em 2011, disfarçou o desconforto na cara de José Sócrates quando uma jornalista da Renascença lhe perguntou se receava novos processos judiciais.

As frases que foi dizendo entretanto sobre o escândalo merecem ser lembradas: “É completamente mentira que esteja a viver uma vida de luxo.” “A primeira coisa que fiz quando saí de primeiro-ministro foi pedir ao meu banco um empréstimo para ir viver um ano para Paris.” “Nunca tive contas no estrangeiro, eu não tenho capitais para movimentar, eu só tenho uma conta bancária há mais de 25 anos.” “O amigo que é referido é um amigo de infância com cuja vida empresarial nada tenho a ver”. “A minha família não faz tráfico de capitais.” “O que eles [meios de comunicação social] querem é ganhar mais dinheiro”. “Isto é uma verdadeira canalhice.”

Seis anos depois, o ex-primeiro-ministro foi formalmente acusado pelo Ministério Público de crimes como corrupção e branqueamento de capitais — juntamente com o ex-presidente do BES, Ricardo Salgado, os ex-presidentes da Portugal Telecom Zeinal Bava e Henrique Granadeiro ou um ex-vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos, Armando Vara.

O Observador está a registar os momentos mais marcantes daquele que é provavelmente o maior escândalo da democracia portuguesa, no minidocumentário “Era uma vez em Portugal”, que começou a ser publicado um dia depois de ter saído a acusação que visa 28 arguidos.

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Na Parte I, veja tudo sobre a queda de Sócrates: a perda do poder, as primeiras vezes que foi confrontado com suspeitas sobre este processo e a misteriosa amizade com Carlos Santos Silva.

A Parte II abrange o período entre a detenção e a saída da acusação: as visitas VIP à cadeia de Évora, o apoiante revoltado que levou um cravo vermelho, o hino “José Sócrates sempre, Sócrates sempre presente”, as paródias das rádios, a prisão domiciliária em casa da ex-mulher, a entrega de pizza mais surreal feita em direto (“Cadeia? Não, eu não estou preso”), o humorista que o encheu de balões, a entrevista em que se defendeu, os vídeos que publicou no YouTube e o humor com que Ricardo Araújo Pereira o caricaturou: “Nos últimos anos, o período em que José Sócrates levou um estilo de vida mais próximo daquele que o salário de primeiro-ministro pode pagar foi aquele ano que ele passou em Évora”.

Na Parte III, os momentos mais marcantes após a saída da acusação.“Mas amavam-se?”, perguntou José Pacheco Pereira, na Quadratura do Círculo, sobre a relação entre o ex-primeiro-ministro e o amigo Carlos Santos Silva que alegadamente lhe pagava as despesas. “José Sócrates tem falhas de carácter”, acusou Marques Mendes. “Não é uma pessoa séria”, qualificou Daniel Oliveira. Clara Ferreira Alves admitiu que errou na avaliação que fazia do caso. E Pedro Silva Pereira, João Galamba e Correia de Campos não esconderam o desconforto. Há ainda as perguntas de Vítor Gonçalves na entrevista interrompida por uma série policial, o coro de apoiantes na apresentação do novo livro do ex-primeiro-ministro, a cantar “Sócrates amigo, o povo está contigo”, e as paródias do Bandex e de Bruno Nogueira.