Há duas áreas que temos de seguir com toda a atenção para percebermos se estamos de facto a resolver os nossos problemas – naquilo que está nas nossas mãos. Uma delas é a evolução dos juros, assim como tudo aquilo que determina esse comportamento. Outra área é o sector bancário. A subida dos juros da dívida pública ou a desestabilização do sector bancário fazem-se, em geral, a uma tal velocidade, no mundo financeiro em que vivemos, que têm o poder de destruir a dinamização da economia.

Os recentes números do crescimento são motivo de satisfação, quer pela recuperação inesperada, quer pelo perfil – mais baseado nas exportações do que no consumo. O acentuado aumento do emprego revela ainda como a economia mudou, sem que ainda se perceba bem como. Durante cinco anos assistimos à destruição de postos de trabalho: desde Junho de 2008 a Março de 2013. Há mais de três anos que o emprego está a aumentar e a um ritmo tão surpreendente como o registado na fase de destruição de postos de trabalho. O mínimo que se pode concluir é que a economia portuguesa ficou mais ágil, um aspecto especialmente positivo numa era de instabilidade máxima.

Mas é exactamente essa agilidade, agora a criar emprego rapidamente, que sendo positiva na fase do arranque da economia, a expõe igualmente a qualquer abalo que possa ocorrer. E é desses abalos que nos temos de prevenir olhando para os melhores indicadores.

Um deles é o Índice Europeu de Incerteza Económica que está de novo a subir depois de ter recuado após o Verão. O quadro político muito incerto da Europa – já no fim desta semana com o referendo em Itália e as eleições na Áustria – parece ser a melhor explicação para este agravamento do índice depois do susto do Brexit. O próprio BCE tem manifestado preocupação com os efeitos económicos dessa incerteza com Mario Draghi a considerar, numa entrevista esta semana o El País, que o factor dominante é a “incerteza política”, restando apenas a dúvida sobre a dimensão desses efeitos.

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Claro que Frankfurt continua a ter a sua arma de injectar dinheiro na economia, com compra de dívida. E em vésperas de referendo em Itália o BCE já fez saber, num exclusivo da Reuters, que está pronto para comprar títulos italianos de dívida, se os resultados abalarem os mercados. O problema é que o BCE não consegue resolver problemas políticos, como a onda populista, mesmo que na importante reunião que terá no dia 8 de Dezembro o Conselho de Governadores decidir continuar com as compras de dívida para além de Março de 2017.

A incerteza política e especialmente a perspectiva de mudança na política económica nos Estados Unidos – prevendo-se um brutal choque orçamental expansionista – já está a produzir os seus efeitos. A desvalorização do euro e a subida dos juros a dez anos da dívida pública, com o alargamento da diferença entre as taxas alemãs e as de países como Portugal, estão aí. A subida do preço do petróleo, a que se assistiu esta semana, e as boas notícias que chegam da economia norte-americana reforçam a tendência de subida de juros nos Estados Unidos. Tudo isto significa que deste lado do Atlântico, na Zona Euro, mais cedo o mais tarde acontecerá o mesmo, começando pela redução do programa de compra de dívida.

As taxas de juro são outro dos indicadores a seguir atentamente em Portugal. A diferença entre as taxas de juro a 10 anos da dívida pública portuguesa e alemã fechou o mês de Outubro em 3,29 pontos percentuais, de acordo com os dados do Banco de Portugal. Estamos perante o diferencial mais elevado desde Fevereiro de 2014, altura em que a troika ainda cá estava e se começou a tornar clara a “saída limpa”. No último dia do mês de Novembro, os juros portugueses da dívida pública atingiram os 3,71% com as taxas alemãs nos 0,275%, o que alargou ainda mais a diferença (3,43 pontos). Mais uma vez é preciso retroceder aos meses entre finais de 2013 e início de 2014 para encontrarmos um tal afastamento em relação aos juros alemães, os que servem de referência no mercado do euro.

Claro que estamos a falar de taxas formadas nas transacções entre investidores – não correspondem à taxa a que nos financiamos –, mas estão a subir apesar da pesadíssima presença do BCE. Porque sobem? Há duas razões fundamentais: a actual conjuntura internacional – identificada na recente subida generalizada dos juros que inclui a Alemanha – e a estratégia política do actual Governo – que se prova com a subida dos juros portugueses desde finais do ano passado, apesar da taxa de juro alemã estar nessa altura ainda a descer.

Tudo isto significa que vamos pagar juros mais altos pelo nosso financiamento, em parte por responsabilidade nossa, em parte pela mudança do enquadramento internacional – seja ele a política económica nos Estados Unidos ou a incerteza política.

A outra frente que temos de seguir atentamente é a da banca. O caso da demissão de parte da administração da CGD incluindo o seu presidente, com todo um inexplicável processo que começa ainda antes do Verão com sintomas de que ia correr mal, é bem revelador de que não se pode cantar vitória sem ver primeiro os resultados, num sector tão frágil como este.

O primeiro-ministro e o ministro das Finanças transmitiram, desde a primeira hora, a mensagem de que conseguiriam resolver os problemas da banca melhor e mais depressa do que o anterior Governo e a troika juntos. Começou com o Banif, com António Costa a colocar o problema na praça pública ainda não era primeiro-ministro. O caso da CGD e o tempo que está a demorar concluir tudo o que é preciso fazer para estabilizar o BCP e o BPI assim como a venda do Novo Banco mostram como é difícil resolver o problema dos bancos. Os sinais que temos apontam no sentido de termos os grandes bancos com um caminho mais claro do que há seis meses. Mas quem falar com os banqueiros percebe que os problemas estão longe de uma solução sem incertezas e prováveis obstáculos.

A incerteza política, a evolução dos juros e a banca dizem mais sobre o que nos pode acontecer do que os recentes indicadores sobre a economia. Vivemos tempos improváveis que recomendam toda a prudência. A economia não recuperou o suficiente para garantir o nosso financiamento sem problemas. E é por isso que a estabilização financeira tem de continuar a ser a prioridade para garantir o crescimento da economia e o emprego de longa duração.