Não é maravilhoso que, nestes dias, todos tenhamos um sítio para dizer o que nos apetece?
Somos todos a favor desta coisa de liberdade de expressão, todos nós, porque todos temos vontade de dizer o que nos apetece dizer. Foi um direito conquistado pelos nossos antepassados. Podemos dizer o que quisermos, onde e quando quisermos. Opiniões em todo o lado e a toda a hora.
E há tantos assuntos sobre os quais podemos ter opiniões: é uma cornucópia de atentados, guerras, terrorismo, corrupção, impostos, religião… é fantástico! Podemos, se quisermos, passar os nossos dias inteiros a dar opiniões.
Mas é raro que se mantenham meras opiniões durante muito tempo. Mais tarde ou mais cedo, os suspeitos do costume aparecem de todos os lados, na net, na imprensa, na TV, nas caixas de comentários – não para dar opiniões, mas para intimidar e calar os outros.
Há aqueles que, cheios de autoridade moral, aparecem para pregar, pregando com raiva para o seu próprio coro, intimidando qualquer um que não concorde 100% que, digamos, todos os burros deviam ter uma almofada para dormir. Porque eles têm a autoridade moral do seu lado e os burros trabalharam muito durante as suas vidas, e agora todos os burros merecem uma almofada de penas e algodão do Egipto. Não, não discutam nada eles. Estão cheios de autoridade moral. Estão na moda neste momento, por isso… ssssshhhhh. Mas não se atreva a mostrar apoio só ao burro, embora tenha tido um burro na sua infância, quando há cangurus e dragões komodo no mundo que também precisam de mimos. Não se atreva a esquecer-se deles, embora os tipos cheios de autoridade moral nunca tenham mencionado os cangurus nem os dragões komodo antes desta polémica. A autoridade moral, altamente proclamada, é boa para calar a gente. Isso, e a ameaça de lhe chamar “fascista”…
Depois, temos os obcecados por factos, que memorizaram todos os dados (os dados que sustentam os argumentos deles, claro) e escrevem ensaio após ensaio raivoso e paternalista, pegando só nos factos que lhes interessam sobre as necessidades dos burros versus a corrupção na indústria de almofadas para os burros. É dentro deste grupo que encontramos os teoristas da conspiração que acreditam na ligação entre os burros e os Illuminati, que têm almofadas escondidas em cavernas nas montanhas, montanhas secretas que só os Illuminati conhecem.
E claro, há os espectacularmente estúpidos que não sabem soletrar nada, e que aparecem, raivosos, para denunciar qualquer coisa que não entendem, incluindo os burros e a sua necessidade de uma boa almofada, porque eles que querem defender as suas almofadas e não há um burro nojento que lhe tire as suas almofadas… morte a todos os burros!
O que é que eles julgam que podem obter ao defender uma posição com veneno, raiva, insultos e ameaças de difamação ou morte? O que acham que estão a fazer? Não vão converter ninguém. Vão empurrar as pessoas para o outro lado ou para a apatia (Ok, o campo dos mais estúpidos sempre encontrará novos discípulos com raiva e retórica … vemos o apoio que tem Donald Trump…). O que estão a fazer é pregar aos já convertidos. Estão a encerrar o debate, porque ninguém razoável entrará outra vez na discussão.
Parabéns. Os presunçosos com a autoridade moral, e os mal-informados ou auto-informados estão a destruir as conversas, a impedir os debates razoáveis, e como se pode ver nas nas autárquicas em França, na campanha de Trump, e ou, atrevo-me dizer, também cá em Portugal, a deixarem os extremismos chegar a frente, porque as vozes dos extremismos, de todos os lados, estão cada vez mais altas.
Soluções razoáveis para os problemas deste mundo não vão ser encontradas com raiva. Em breve, as únicas pessoas a falar, a entrar na política vão ser os tipos com cojones gigantes de aço, os loucos, e os extremistas com redes suspeitosas de apoiantes.
As pessoas razoáveis vão ficar num canto, caladas, à espera disto tudo correr louca e terrivelmente mal.
Isto é o que nos fizemos a nós próprios.
(traduzido do original inglês pela autora)
Angry Polarities
Isn’t it great that we can all find somewhere, these days, to be heard?
We’re all up for this free speech thing, all of us, because we want to say what we want to say. It’s what our forebears fought for. We can say what we like where and and when we like. Opinions galore.
So many things for us to have opinions about too, what with all the bombings and wars and terrorism and corruption and taxes and religion. It’s AWESOME. We can spend our entire days having opinions.
But they rarely stay as mere opinions for long, and the (now) usual suspects appear from the wings, on the internet, in the press, on the tv, in the comment boxes, to fight.
There are the ones with moral authority who come out proselytising, preaching angrily to their own choirs, browbeating anyone who doesn’t wholeheartedly agree that, say, all donkeys should have pillows to sleep on. Because they have moral authority on their side and donkeys have been hard working animals all their lives, and they deserve a nice fluffy pillow. No. Don’t argue with them. They have moral authority. They are in fashion right now, so shhhhh. But, don’t you dare show your support for just the donkeys though, even though you owned a donkey when you were young… many other animals need our help too… kangaroos and komodo dragons need cuddles too. Don’t you dare forget them, even though they had never mentioned a single kangaroo or komodo dragon ever before. Moral authority, loudly proclaimed, is good for shutting people up. Oh, and threatening to call them a fascist.
Then there are the fact obsessives, who have memorised all the facts (that support THEIR argument) and write or speak angry and patronising essay after essay at you, cherry picking facts from long winded reports about donkey needs versus donkey pillow corruption. It is amongst this group that you will find the conspiracy theorists who might believe that donkeys are in league with the Illuminati and have secret pillows hidden in caves in the mountains, secret mountains that only the Illuminati know about.
Then there are the deeply stupid who can’t spell, who come out angrily against anything they don’t understand, including donkeys and their need for pillows, because they themselves want the pillows and no dirty donkey is going to come and take their pillow away from them, so all donkeys must die.
Then there are the rest of us, who start to give up discussing things, except in private, because, honestly, we’d rather not be called ignorant, heartless, stupid, extreme-donkey/extreme-non-donkey sympathisers and have people raging at us, have internet campaigns directed towards us, receive death threats, just because we might opine that donkeys might like pillows, but really donkeys don’t need pillows, and pillows are quite expensive and we probably have more important ways to spend money so that fewer donkeys are left in the position where they would quite like a pillow, thinking about it in a long term kind of way, but that’s just my opinion.
When you angrily defend a position with vitriol, rage, insults and death threats, what do you think you are doing?
You’re certainly not converting anyone to your side. After all, isn’t that what you want?
You are pushing people to other camps. Or to apathy.
(Ok, the deeply stupid camp will always find new followers this way….look at the support for Donald Trump….)
What you are doing is preaching to your own choir and alienating everyone else.
You are shutting down debate, because no one reasonable will engage in the argument any more.
Congratulations. The angry, ill-informed and/or self-informed, self-righteous moral authoritarians are shutting down debate and, as we see in the French local elections, and the Trump campaign, and oh, dare I say it, here in Portugal, letting extremism get its way, because the extremist voices are getting louder.
Reasonable solutions to problems aren’t going to come from rage. Soon, the only people speaking, speaking out, going into politics, finding solutions will be the one with enormous iron cojones, the insane and extremists with shifty networks of supporters. The reasonable people will be sitting quietly in the corner, waiting for it all to go insanely and horribly wrong.
That’s what we’ve done to ourselves.