Comece pelo refogado. A base são os pés com a melhor técnica, os homens mais rápidos e as melhores cabeças a decidir o que fazer à bola. Distribua os 11 ingredientes pelas posições. Coza a lume brando durante um estágio e junte uma pitada de sorte. E pronto, está (muito) resumida a receita para cozinhar uma ida ao Mundial com sucesso. Ou talvez não. Faltava pesar a influência que a meteorologia terá. E Portugal que o diga – a seleção será a terceira mais desconfortável no Brasil e terá as piores condições para jogar, a julgar pelas contas da agência financeira Bloomberg.
Pelo menos na fase de grupos. A culpa não é da Bloomberg, mas foi a agência que se lembrou de criar um ranking de desconforto com as 32 seleções que vão estar no Brasil. E na receita entre a temperatura, as nuvens, o ponto de condensação e o ângulo dos raios solares, Portugal somou um resultado de 79,1 em 100 possíveis. O terceiro mais elevado.
A Bloomberg analisou os dados históricos de meteorologia nos locais onde cada seleção vai realizar os três encontros da fase de grupos no Brasil. A temperatura média, o ponto médio de orvalho (quando o vapor de água presente no ar passa ao estado líquido), o ângulo da iluminação solar e a percentagem de cobertura das nuvens (nebulosidade) foram as variáveis calculadas para a hora de início de cada jogo.
Salvador, Manaus e Brasília. São três cidades brasileiras. É nelas que, entre 16 e 26 de junho, a seleção nacional vai dividir o tempo e as pernas na fase de grupos do Mundial. Tudo com uma temperatura média de 26.8ºC. O valor foi calculado tendo em conta a hora a que Cristiano Ronaldo e os seus dez escudeiros começarão a jogar contra a Alemanha, o Gana e os EUA.
O mesmo se fez para as outras variáveis e a coisa não é saborosa. A média de nebulosidade será de 64%, a do ângulo dos raios solares estará nos 33% e o ponto de condensação andará à volta dos 18.5ºC. Isto é bom ou mau? Para situar a coisa, volta-se ao ranking e lá está – Portugal está no pódio dos piores níveis de desconforto e “condições de jogo”, segundo as previsões da Bloomberg.
No grupo de Portugal ninguém se pode rir muito
Pior que a seleção nacional só a Itália (2.º) e a Alemanha (1.º) – que, vá lá, está no grupo de Portugal. Tanto uma como outra equipa partilha com Portugal uma cidade onde andará a correr atrás da bola: os italianos também viajam até ao meio da selva (Arena Amazónia), enquanto os alemães têm um encontro para discutir (Arena Fonte Nova) com a baía de Salvador por perto.
O prato não fica mais sensabor pois, na despensa dos germânicos, os cálculos da Bloomberg colocaram ingredientes para uma refeição ainda mais desconfortável. E passar os olhos pelo resto da lista até ajuda a aligeirar o resto da digestão – nos dez primeiros lugares surgem também os EUA (5.º) e o Gana (8.º), as outras seleções no grupo de Portugal. Ou seja, não será fácil para ninguém.
A melhor receita para uma meteorologia simpática na fase de grupos é mesmo esta: começar o Mundial às 18h, em Cuiabá, estar depois em Porto Alegre, às 16h, para o segundo encontro, e viajar depois rumo a São Paulo, para lá jogar a última partida, outra vez às 18h. E de onde veio esta conclusão? Do último lugar do ranking da Bloomberg. Ou melhor, da Coreia do Sul, que o ocupa. Ou melhor ainda – do calendário que a seleção asiática terá.