António José Seguro e António Costa não chegaram a um consenso nem sobre a forma como se resolve a disputa para a liderança do partido, nem quanto ao conteúdo: Seguro quer eleições primárias para a escolha do candidato a primeiro-ministro e não se demite, afastando eleições para a liderança do partido; Costa acha que não faz sentido separar uma coisa da outra, abrindo a possibilidade de uma situação “bicéfala” no PS. E os dois disseram não ter medo de enfrentar eleições. Seguro diz que não tem “vocação para atirar a toalha ao chão” e António Costa frisou: “Não tenho medo de eleições”. E como fica o PS?
Depois da reunião da comissão nacional deste sábado, as duas fações impuseram a sua vontade, ficando a solução adiada: António José Seguro impõe a discussão, pela comissão política nacional a realizar esta semana, da proposta de realização de eleições primárias para o partido. E António Costa conseguiu os assinantes necessários para forçar uma comissão nacional extraordinária (que se realizará depois) para discutir a possibilidade de um congresso extraordinário onde se decida (também) a liderança do partido. Os dois diferem na forma de o fazer e entraram numa guerra de estatutos.
“Não tenho medo de eleições”
António Costa foi o primeiro a sair. O candidato à liderança do PS diz que não vai desistir, independentemente da solução que for adotada: via eleições primárias ou via congresso extraordinário onde se discuta a liderança do partido: “Não sou pessoa de desistir por questões processuais. Já renunciei por questões do partido e do país. Estou muito seguro e muito certo do que é a vontade do PS e dos portugueses”, disse António Costa. O autarca de Lisboa não concorda que se façam apenas eleições para saber quem é o candidato a primeiro-ministro, porque, diz, “o PS não pode estar com uma liderança bicéfala”. Ou seja, caso se realizem as eleições primárias e caso Costa as vença, Seguro não pode ficar como secretário-geral, defende. “Não podemos ficar com um secretário-geral do partido fragilizado por ter perdido eleições primárias e não podemos ter um candidato a primeiro-ministro que não tenha o apoio do partido”.
Mas o candidato não ficou por aqui. Dizendo que não tem “medo de eleições” porque já disputou muitas e até já perdeu algumas, atirou a Seguro, indiretamente:
Percebo que outras pessoas que nunca concorreram a eleições tenham outra dificuldade, que façam muitas contas e encontrem jogos processuais para saberem como disputam as batalhas. Por mim é como quiserem”
“Não tenho vocação para atirar a toalha ao chão”
António José Seguro foi o último a sair e aos jornalistas mostrou-se “triste” pela crise no PS dizendo que quem criou o problema foi de uma “enorme irresponsabilidade enfraquecendo o partido”. O líder do partido até admite “ceder” parte da legitimidade que lhe foi dada depois do desafio feito por António Costa. Ou seja, diz Seguro: “Foi criado um problema e não fui eu que o criei. Eu sou o líder do PS, estou eleito democraticamente pelos militantes mais de 90% dos militantes votaram em voto secreto na minha eleição, sou o candidato a primeiro-ministro e espero ser quando se realizarem as primárias”. E para isso quer ver os estatutos do partido alterados para permitirem eleições primárias a candidatos a primeiro-ministro.
Seguro diz estar confiante e não se demite: “Eu não tenho vocação para atirar a toalha ao chão, pelo contrário, tenho de lutar, de lutar por ideias e propostas”.
E atirou a António Costa usando da ironia:
“Assisti a estes momentos desta semana com muita tristeza. Os portugueses em casa perguntam-se: ‘É isto que é a política? Estes jogos de poder? Então não há um que ganhou as eleições agora vem outro e diz ‘sai daí que é para eu entrar’. Não tem sentido nenhum”.
Os jogos de poder continuam esta semana na comissão política do partido e mais tarde na comissão nacional. Na primeira vai ser discutida a possibilidade de eleições primárias para a candidatura a primeiro-ministro, na segunda que à liderança do partido seja anexa a candidatura a primeiro-ministro.