O Presidente da República (PR) alertou esta terça-feira para a necessidade da salvaguarda da capacidade operacional das Forças Armadas e defendeu uma “especial atenção aos problemas concretos dos militares”, sublinhando que “os Exércitos não se improvisam, preparam-se”.

No discurso dirigido aos militares (e que foi interrompido durante cerca de 30 minutos devido a uma indisposição do Presidente) nas cerimónias do 1o de junho na Guarda, Cavaco chamou a atenção ainda do Governo para a necessidade de consensualizar a reforma, em estudo, do Estatuto dos Militares das Forças Armadas (Emfar).

“Em termos nacionais, é essencial a existência de Forças Armadas prontas e preparadas para servir o país, com uma capacidade de resposta adequada e assente na eficácia da organização, na qualidade dos equipamentos e na motivação dos seus quadros e tropas. A complexidade do processo obriga a uma preparação rigorosa e demorada. Os Exércitos não se improvisam. Preparam-se”, afirmou Cavaco Silva, que é também o comandante supremo das Forças Armadas.

Pois, sublinhou, é nas pessoas que reside a determinação das Forças Armadas e é sobre elas que que recai a responsabilidade do exercício da função e que se fazem sentir as maiores dificuldades.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Pela sua importância e pelos reflexos na coesão, no moral e na disciplina, é legítima a expectativa dos militares quanto ao processo de instalação do Hospital das Forças Armadas e, também, quanto ao resultado do trabalho conjunto, entre os Chefes Militares e a tutela, em relação à proposta de revisão do seu Estatuto”, referiu.

Cavaco Silva evocou ainda longamente sobre o centenário do início da I Grande Guerra, recordando todos os que morreram e se sacrificaram nos “campos de batalha” da Flandres, de Angola e de Moçambique, assim como as circunstâncias que rodearam a participação de Portugal.

“Recordar para aprender com os nossos feitos e os nossos erros porque o país que ignora a História, que não recorda e não aprende com o seu passado, tende a repetir os mesmos erros no futuro”, sustentou, reconhecendo que “houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no regresso”.

“Pode dizer-se que os militares que foram para a Flandres e para África nada tinham senão a coragem”, exclamou.

Contrariando o discurso habitual instalado na sociedade portuguesa, Cavaco Silva admitiu que “houve incúria na preparação, alheamento na execução e esquecimento no regresso”. “As decisões tomadas nos corredores de Lisboa não se revelaram ajustadas, ignoraram os avisados pareceres militares, interferindo abusivamente na ação de comando”, explicou.

Destacando duas áreas de atuação, o Presidente da República reiterou a necessidade de Portugal ter “umas Forças Armadas credíveis, coesas e treinadas, capazes de assegurar o cumprimento das suas missões dentro e fora do território nacional” e enfatizou a a necessidade da ação de comando ser centrada nas pessoas, “dando especial atenção aos problemas concretos dos militares”.

No discurso, o chefe de Estado deixou ainda uma nota sobre “a perigosa indiferença” que se assiste hoje na Europa e no Mundo perante importantes questões de segurança “negligenciando-se as causas geradoras de conflitos, nomeadamente o recrudescimento dos nacionalismos e a irrupção das tendências separatistas”.

“A segurança e a paz não são dados adquiridos. Dependem da vontade e das decisões de terceiros e da confluência de circunstâncias várias”, frisou.