O bispo do Porto considera que “este não é o timing” para discutir o fim do celibato dos padres católicos, mas admitiu que a questão está “em aberto”. O tema de um eventual fim do celibato pelos padres católicos ocidentais foi admitido a 27 de maio pelo papa Francisco, para quem o assunto “não é um dogma de fé” e “a porta está sempre aberta” para tratar o tema.
Para António Francisco dos Santos, a questão do celibato “no calendário atual não é prioridade”, dado a Igreja Católica considerar que não se trata de um tema controverso, mas sim de algo que, na ótica clerical, está colocada “da forma certa”. “O celibato na igreja ocidental, católica de rito latino, é uma norma disciplinar, não é um dogma. A igreja católica de rito oriental aceita ordenar homens casados e não é uma igreja inferior ou menor”, afirmou em entrevista à Lusa o bispo do Porto, para quem a proibição de casar “é um dom e graça” que os padres devem “saber reconhecer”.
Isso não impede que “um dia a Igreja não pense de outra forma e ordene homens casados”, disse António Francisco dos Santos, para quem é importante saber reconhecer os sacerdotes que vivem o dom do celibato com “doação, entrega e verdade” e “sentido de serviço” à Igreja, sendo fiéis ao compromisso que fizeram aquando da ordenação presbiteral.
O prelado lembrou que a Igreja Católica ordena diáconos, “fiéis responsáveis pela proclamação da palavra de Deus”, que não necessitam de votos de celibato, podendo ser casados. Quanto ao casamento entre os fiéis, o bispo admitiu que o número de pessoas a optar pelo matrimónio católico tem diminuído, porque “têm muitas dificuldades em assumir compromissos para sempre”.
Isto acontece “não só no casamento, mas na vida profissional e em várias áreas” da vida atual. “Temos uma tendência para adiar facilmente a decisão que nos compromete para sempre, mas só compromissos definitivos é que nos proporcionam caminhos de felicidade”, frisou.
A “rapidez” com que, muitas vezes, a vida se constrói não dá possibilidade às pessoas de assumir compromissos “para sempre”, disse o bispo, considerando que face à “instabilidade com que se vive o emprego” é normal que as famílias fiquem “fragilizadas”, fazendo com que os jovens adiem o casamento.
Cabe à Igreja, sublinhou, “acompanhar e preparar os jovens a abrir caminhos para uma vida feliz no matrimónio cristão e numa família estruturada”, não devendo distanciar-se, nem esquecer-se dos jovens que não seguem estes caminhos, porque, também eles, fazem parte da família cristã.
Questionado sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo e o uso de preservativos, António Francisco dos Santos remeteu estas questões para “o espaço de decisão e opção” das famílias: “devemos respeitar muito as decisões das famílias e ajudá-las na formação da sua consciência, formando no espírito cristão este espaço de decisão e opção”.
Quanto ao momento vivido pela Igreja Católica, o bispo do Porto considerou que esta está num processo de transformação “positivo” que “muito se deve” ao carisma do papa Francisco. “Gostaria de ser seu discípulo e seguidor, podendo trazer para a diocese do Porto aquilo que ele procura trazer ao mundo”, sublinhou.