Os intestinos dos humanos e de outros mamíferos são, por vezes, colonizados por parasitas, como as conhecidas lombrigas ou ténias. Ter o intestino infestado de vermes não parece uma situação muito positiva, mesmo quando a pessoa que transporta estes organismos (hospedeiro) não tem sintomas. Mas o estudo destes parasitas, em concreto a sequenciação do respetivo genoma, pode ajudar a combater doenças humanas.

Existem duas formas do verme em forma de chicote que infetam o homem: o Trichuris trichiura, que provoca disenteria e problemas no desenvolvimento físico e cognitivo, e o Trichuris suis, que pode provocar a morte em porcos, mas que não afeta os humanos. Pelo menos, não de forma negativa.

“Sabemos que os humanos infetados com a forma inofensiva do verme podem revelar uma diminuição dos sintomas relacionados com as doenças autoimunes”, diz em comunicado de imprensa Aaron Jex, investigador na Faculdade de Ciências Veterinárias, da Universidade de Melbourne, na Austrália.

Conforme refere o estudo, publicado este domingo na revista Nature Genetics, trabalhos anteriores já haviam demonstrado que Trichuris suis seria eficaz no tratamento da doença inflamatória do intestino e a esclerose múltipla, mas a interação específica entre o parasita e o hospedeiro permanecia pouco clara.

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A chave parece ser a produção de proteínas e lípidos pelo parasita que acabam por inibir a inflamação causada pela doença autoimune. Assim, é possível relacionar as moléculas produzidas com os modelos já existentes para as doenças autoimunes. “Agora que temos a sequênciação genética do verme, abrem-se portas para o futuro do desenvolvimento de drogas e outros tratamentos em humanos”, diz Aaron Jex, investigador responsável por este estudo.

No mesmo dia, a revista Nature Genetics publica outro estudo sobre sequenciação genética de vermes do mesmo género – Trichuris trichiura, que afeta humanos, e Trichuris muris, que afeta ratos, mas que por ser muito semelhante ao Trichuris trichiura é usado para estudos em laboratório. A investigação liderada pela equipa do Parasite Genomics, no Wellcome Trust Sanger Institute, no Reino Unido, propõe que o sistema imunitário do hospedeiro também possa ter influência na redução da patologia.

Mas ambos os estudos concordam que percebendo melhor a interação entre o parasita e o hospedeiro, e o sistema imunitário deste, será possível perceber melhor as doenças inflamatórias autoimunes e encontrar um tratamento para elas.