A administração e a direção clínica do Hospital de S. João, no Porto, demitiram-se em bloco, nesta quinta-feira, em protesto contra a política de saúde do Governo e a desclassificação daquela unidade hospitalar. Demitiram-se também 31 diretores de serviços clínicos e todas as direções dos departamentos do centro hospitalar.

O Conselho de Administração (CA) do Centro Hospitalar de São João confirmou esta informação ao jornal Público e afirmou que ”concorda com as razões apresentadas”.

São cinco os principais motivos para a demissão em bloco da estrutura administrativa do hospital: a desclassificação do hospital, a perda de valências nos últimos anos em áreas como as doenças raras, que passaram para o hospital de Guimarães, a proibição de contratação de pessoal, que dura há dois anos, a não renovação do material e a diferença do valor pago pelos atos médicos. Ou seja, os hospitais do norte recebem menos dinheiro pelos mesmos tratamentos que os hospitais em Lisboa.

Em declarações no Parlamento, o deputado socialista José Junqueiro exigiu explicações ao ministro da Saúde e considerou que “é uma má notícia para o SNS, mais uma, e um grande constrangimento para o país em geral e para o norte em particular”. Para José Junqueiro, a “degradação a que o Governo e o ministro têm conduzido os cuidados de saúde é absolutamente inaceitável”.

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O deputado socialista referiu ainda que o Presidente da República “não pode fechar os olhos não só ao anormal funcionamento das instituições e dos órgãos de soberania mas agora também ao anormal funcionamento de instituições tão relevantes” como este hospital.

Ao Público, Manuel Pizarro, ex-secretário de Estado-Adjunto da Saúde, não poupou críticas a Paulo Macedo. “A demissão de todos os dirigentes do Centro Hospitalar S. João e, sobretudo pelos motivos invocados, reveste-se da maior gravidade e coloca em causa diretamente a ação ou talvez melhor dito a inação do senhor ministro da Saúde”, disse Pizarro, acrescentando que “constitui um crime contra o país e contra os cidadãos do norte deixar deteriorar uma unidade tão qualificada”.

Esta demissão foi uma surpresa na forma mas não necessariamente no timing, refere a RTP. O professor António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do hospital, é um dos principais críticos aos cortes que têm sido feitos no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e exige alterações no que diz respeito às proibições de renovações de contratos de pessoal médico e técnico e às limitações que existem na renovação do material.

António Ferreira reuniu-se com o ministro da Saúde em maio e manifestou-lhe a sua vontade em deixar a presidência do conselho de administração do hospital. Na altura, refere o Público, Paulo Macedo terá admitido fazer algumas cedências que iriam ao encontro das revindicações do gestor.