Craque. Uma palavra que apetece repetir. Muitas vezes, mesmo. É esta a vontade que 85 minutos despertaram. Culpa apenas do tempo? Não, por supuesto que no. A culpada é a canhota de um colombiano. De um miúdo que, aos 22 anos, está a tomar conta de uma equipa de cafeteros. É ele James Rodríguez, o homem que mais dá nas vistas entre os que que vieram da terra do café, da Colômbia, dos que estão a energizar uma Copa e a mais e mais razões para serem temidos.

É ele, o antigo médio do Porto, que mais brilha entre os homem que vestem de amarelo neste Mundial. Todos, sim, mais ainda que Neymar. Foi o seu pé esquerdo que, este sábado, colou dois selos à bola e a mandou por duas vezes entrar na baliza do Uruguai. Em ambas chegou ao destino. Só James teve a ousadia de obrigar o marcador a mexer-se. No final, 2-0 e Colômbia nos quartos de final.

Craque, mesmo. Tudo o que faz denuncia-o. Aos 28’, foi impossível escondê-lo. Lá estava James, à entrada da área uruguaia, matreiro, entre defesas e médios uruguaios, à espera que a bola lhe chegasse. Quando ela já ia a caminho, no ar, vinda da cabeça de Aguilar, o diez colombiano teve um segundo de sobra para olhar para a baliza. Deu para ver onde estava Fernando Muslera, guardião do Uruguai.

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Depois, olhou para a bola, preparou-lhe uma recepção calorosa no peito, fê-subir um pouco e, quando a gravidade fez o seu trabalho, James foi bruto: rematou, com força e intenção, em direção à baliza. Um tiraço que ainda bateu na barra antes de se aconchegar nas redes inimigas. Golaço. Era a quarta bola que Rodríguez metia na baliza em cinco remates feitos neste Mundial — a mesma que o fez suceder a Christian Vieri, o italiano que, em 1998, também conseguiu marcar em cada um dos quatro primeiros jogos do Mundial.

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Além de craque, portanto, James já era histórico. Mais uma prova? Era também o primeiro colombiano a marcar três golos seguidos da seleção. Aos 50’, esta história ganhou mais uma página para a contar. Nesse minuto, a Colômbia decidiu mostrar o que vale. Sim, mais do que já o tinha feito. Quatro jogadores uniram-se para acabar com uma jogada que arregala os olhos a qualquer um.

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Pela forma como Jackson Martínez recebe a bola à entrada da área, a esconde de ladrões e a passa para a esquerda. Pelo cruzamento que, de lá, saiu do pé de Pablo Armero. Pelo salto, que mais parecia em trampolim, que Juan Cuadrado deu ao segundo poste, para chegar à bola. E pelo passe que este homem da Fiorentina fez (quarta assistência nesta Copa) para o pé direito de James Rodríguez. E, já agora, pelo quinto golo em sete remates do pensador do Mónaco. Craque. E logo um com 71,4% de eficácia no remate.

Pode uma partida resumir-se em dois golaços? Sim, mas é injusto. Para os uruguaios, que nunca deixaram de tentar chegar à baliza colombiana, e para David Ospina, guarda-redes cafetero cujas paradas impediram que o adversário espreitasse uma eventual reviravolta. Pobre Uruguai.

O quarto lugar do último Mundial saía desta Copa aos oitavos de final, e provava que, talvez, esteja sujeita a uma regra — quando não tem Luis Suárez em campo, perde. Nos últimos três encontros em que tal aconteceu num Mundial (contra a Holanda, em 2010, e frente à Costa Rica e Colômbia, em 2014), a seleção celeste foi derrotada. É o preço a pagar quando não se tem em campo um craque.

Uma coisa que, se tudo correr bem, os colombianos terão frente ao Brasil, nos quartos de final. Craque. É isto que James Rodríguez está a mostrar ser. E logo à primeira vez que aparece num Mundial. Uma prova? Basta comparar o que tem feito ao que outros craques fizeram nos seus primeiros quatro jogos numa Copa. Ora vejamos — Johan Crujff, o génio holandês, marcou dois golos e deu outros dois a marcar; Diego Maradona, o argentino de ouro, meteu dois golos; e Pelé, o rei dos brasileiros, pronto, marcou seis e fez uma assistência. E Neymar? Esse marcou quatro golos.

James já leva mais um. Ambos são craques, claro está. Mas só o colombiano tem pasmado quem o vê jogo sim, jogo sim. Cuidado Brasil, ele vem aí. E os restantes cafeteros também.

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